7×1 Carnavalize: Sambas inesquecíveis de escolas “esquecidas”

por Leonardo Antan e Vitor Melo

O número de escolas do grupo especial, infelizmente, é limitado. Poucas conseguem se firmar, mas algumas escolas precisam de pouco pra eternizarem seus nomes na história da folia. Nessa nossa lista de hoje, vamos fazer um passeio por obras antológicas que foram cantadas por escolas pouco lembradas pelo folião e que nunca conseguiram alcançar as primeiras partes da tabela, mas deixaram um legado cantado até hoje. Afinal, escola é feita de samba, não apenas de títulos e bons resultados.

Eis verdadeiras grandes escolas da nossa folia:

 7 – Unidos de Lucas 1968 – Sublime Pergaminho

“Uma voz na varanda do paço ecoou:
‘Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão'”

A Unidos de Lucas completou 50 anos recentemente e tem no seu DNA a vitória, nascida da fusão entre a Aprendizes de Lucas e a Unidos da Capela, campeã do carnaval em 1950 e 1960. Tendo como carnavalesco o eterno Clóvis Bornay, já em seu segundo ano ela nos brindou com um dos maiores clássicos da nossa folia. O samba que na verdade se chamava na época “História do negro no Brasil”, ficou conhecido como Sublime Pergaminho graças a regravação de Martinho da Vila, que popularizou a obra. Anos mais tarde, Emílio Santiago também emprestaria sua voz ao samba. Atualmente, o galinho de ouro está na Série B, mas tem em suas histórias outros clássicos inesquecíveis, como o de 1969 (Rapsódia folclórica), 1976  (Mar Baiano em Noite de Gala), entre outros. 


6 – Unidos da Vila Santa Tereza 2013 – Axé – No caminho das águas sagradas

“Na proteção do rei amor eu peço axé, Santa Tereza desfilando sua fé
Nem só de especial vive a nossa lista. Muito menos de sambas antigos, e essa de que os sambas de hoje não tem a qualidade como antes não cola com a gente. A Unidos de Vila Santa Tereza está localizada entre os bairros de Rocha Miranda e Coelho Neto e pode contar nos dedos  as vezes que já desfilou na Sapucaí. Em seu desfile mais recente no chão sagrado da folia carioca, a escola nos entristeceu com cenas que nenhum sambista gosta de ver. Alguns setores chegaram a desfilar sem fantasias, como a bateria e a ala de passistas femininas apenas de roupas íntimas. Nem tudo, entretanto, causava tristeza, a azul, branco e ouro da zona norte presenteava-nos com um belíssimo samba, defendido magistralmente na época das disputas pelo consagrado Wander Pires e interpretado com a garra e a força que não só esse sambaço pedia, mas também toda a conjuntura do emocionante desfile da agremiação pela grande voz do nosso carnaval, Tiãozinho Cruz. 

5 – Colorado do Brás 1988 – Catopês do Milho Verde, de Escravo a Rei da Festa

 “Que beleza, não criou raças, Deus apenas criou vidas
Quem pensou que Sampa não marcaria presença na nossa lista se enganou. A Colorado é mais um escola de samba fundada a partir de um time de futebol e tem uma história de muita luta na folia paulistana. Fundada em 1976, ela demorou dez anos para conquistar um lugar no Especial e quando conseguiu passou um temporada de três carnavais no grupo principal. Em 1988, ela os brindou com um dos mais belos sambas da história da folia paulistana, o samba-afro tem letra e melodia emocionantes e fez um clamor pelo fim da discriminação racial em pleno ano do centenário da Lei Áurea. Um verdadeiro hino. 

4 – Unidos da Ponte 1984 – Oferendas

“Axé! O samba pisa forte no terreiro!”
Com muito marafo, dendê, pipoca, flores e tudo que a Unidos da Ponte tinha direito, a escola fez uma grande oferenda aos orixás, como propunha o enredo – e fez, de fato, o samba pisar forte no terreiro. A cinquentenária azul e branco de São João de Meriti embora desfilasse com esse interessantíssimo samba, só conseguiu ficar no 7° lugar do extinto grupo 1-A do carnaval carioca e acabou sendo rebaixada. A tradicional escola carioca já chegou a emplacar 4 carnavais seguidos na elite do carnaval carioca, mas desde 1996, no seu último desfile no pantheon do carnaval carioca, quando ficou em 18° lugar, permanecendo, até hoje, na Série B do carnaval carioca. Quem acha, todavia, que a contribuição da Unidos da Ponte foi apenas com esse samba, está muito enganado. Vale também ressaltar as duas belíssimas obras de 1973 e de 1983. No primeiro, com o enredo “Dança para os Orixás(Saravá quem vai embora/Saravá quem vai ficar/Saravá o arco Íris/Salve todos Orixás) e o segundo, levando pro desfile um samba cantado até os dias de hoje, E Eles Verão a Deus(E eles verão a deus/Num sonho que fizeram seu sonhar/E eles verão a deus/Razão de todo seu imaginar)

3 – Leandro de Itaquera 1989 – Babalotim, a história dos Afoxés

“Axé pra quem tem, e quem não tem, axé para você também‘”
A outra obra representante de SP é a Leandro de Itaquera, que tem uma história de fundação das mais lindas do carnaval brasileiro. A agremiação surgiu como um presente de aniversário da filha do seu Leandro, que dá nome a escola. Fundada em 1982, ela conseguiu rápida ascensão ao grupo de acesso. Sua estreia no especial aconteceu em 1989. E foi com o pé direito, o pelo samba embalou um desfile arrepiante com um show da bateria comandada por Mestre Lagrila, que conseguiu a façanha de alcançar um honroso sétimo lugar. No microfone, interpretando a obra, Eliana de Lima fazia história mais uma vez depois de sua passagem pioneira na Unidos do Peruche. No carnaval de 2017, a escola reeditará esse hino no grupo de acesso. 

2 – Tupy de Brás de Pina 1961 – Seca no Nordeste

“E olhando o firmamento, suas lágrimas se unem com as dádivas do céu”



Considerado pelos experts Luiz Antonio Simas e Alberto Mussa como o melhor samba de todos os tempos em seu livro “Samba de enredo – História e Arte”, esta preciosidade é um samba belíssimo e emocionante que precisa ser mais conhecido no mundo do samba. A bela canção narra, carregado de poesia, as dores da seca na vida de um sertanejo e virou um sucesso da MPB, sendo regravado por nomes como Jamelão, Mestre Marçal, Fagner e Clara Nunes. A escola de Brás de Pina teve vários outros grandes em sua história, mas infelizmente enrolou a bandeira 1999 após a lutar pelos grupos secundários da folia. Em 2014, para nossa alegria, ela voltou a ativa e está ascensão pelos grupos de acesso. A gente torce que ela volte para a Sapucaí e reedite essa obra prima.

1 – Em cima da hora 1976 – Os Sertões 

“Os jagunços lutaram até o final, defendendo Canudos naquela guerra fatal



Falou em sambas antológicos de escolas pouco lembrada, falou Em cima da hora. A mais tradicional das escolas pequenas. A azul e branco de Cavalcanti “marcada pela própria natureza” brindou nossa folia com algumas das mais belas obras que passaram pela avenida. “Os Sertões” é um dos nosso maiores clássicos, obra de apenas um compositor, o enorme Edeor de Paula, é inspirada no clássico de Euclides da Cunha e narra a história de luta da lendária cidade de Canudos. Infelizmente, no ano de sua apresentação original, uma forte chuva atrapalhou a apresentação da escola. Reeditado em 2014 na Série A, a escola fez uma apresentação emocionante e digna que garantiu sua permanência do grupo. Além deste clássico, vale destacar na história da escola o hino de 1974 (Festa dos deuses afro-brasileiros) e o de 1984 (33 – Destino D. Pedro), que virou clássico na voz da grande Clementina de Jesus e narra as dores da vida nos trens cariocas. 
Já dizia a sabedoria popular: Não julgue um livro pela capa! No mundo do samba, o velho ditado também se faz valer. Não é por uma escola ter uma bandeira menor que não pode nos presentear com belíssimos sambas, como em todas as listas que já fizemos, não conseguimos agradar a todos. Se você sentiu falta de algum samba ou acha que algum(ns) desse(s) não merecia(m) estar aqui, diga-nos!

Comente o que achou:

4 respostas

  1. Esse samba de 88 da Colorado foi reeditado pela escola em 2008, quando estava no Grupo 1 da UESP – aliás, a primeira reedição do carnaval paulistano.

    Babalotim: precisa mesmo comentar?

    Os Sertões, um clássico que foi cruelmente canetado em 2014. Um soco no estômago.

  2. Sobre o samba da Colorado, quase colocamos o vídeo da re-edição no lugar do original. Rs

    Sobre Babalotim: Axé pra vc também!

    E sobre os julgadores de 2014, canetariam até se fosse "Aquarela brasileira". Um soco no estômago e um pé na bunda!

    Abs, Carlos!

  3. Me desculpem, mas esse samba de 2013 não merece estar nessa lista maravilhosa, não q seja ruim, mas estánum nível bem abaixo dos outros. Vcs poderiam substituí-lo por uma obra-prima do Arrastão de Cascadura, "As Icamiabas", de 1996. Esse samba é o meu favorito, e olh q eu já ouvi centenas, quiça milhares…

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