O samba foi composto por Armênio Poesia, Channel e Fredy Vianna. Fredy também fez a sua estreia como intérprete oficial da agremiação, na qual permanece até hoje. A alviverde foi a primeira escola daquele ano a escolher a sua obra e também a primeira do Brasil a realizar a final de concurso de samba-enredo ao vivo pela internet para todo o planeta. A escola levou para um estúdio os compositores dos três sambas finalistas, no qual os mesmos se apresentaram. Essa transmissão também contou com os diretores da bateria Puro Balanço – na época, uma dupla formada por Mestre Caju e Mestre Moleza -, a ala musical e os diretores de vários setores. Essa inovação proposta pela Mancha Verde proporcionou que milhares de internautas pudessem acompanhar a final. O fato do samba-enredo ser narrado em primeira pessoa, com Odu Obará transmitindo uma mensagem a todos, tornou-o ainda mais marcante. Trechos como “Oh senhor, perdoai a humanidade, iluminai a consciência pra guiar essa mudança” e “vou guardar no coração, levar em minhas mãos a mensagem de esperança” traduzem a importância do enredo e fazem esse samba se tornar ainda mais emocionante e inesquecível.
Águia de Ouro 2013
“Minha missão: O canto do povo, João Nogueira”
Compositores: Diogo Nogueira, Ciraninho, Rafinha, Leandro e Serginho Castro.
Ninguém faz samba só porque prefere… Após um ano traumático, o Águia de Ouro buscava se reerguer após um 12° lugar. Para isso, escolheu uma homenagem ao cantor e compositor João Nogueira. Fazendo jus ao homenageado, a azul e branco encantou o Sambódromo do Anhembi com a qualidade do seu samba-enredo e a força da comunidade, terminando na terceira colocação. A obra é considerada uma das melhores da safra e também da história da escola da Pompéia. Com o enredo “Minha missão: O canto do povo, João Nogueira”, assinado pelo carnavalesco Claudio Cebola, o samba-enredo teve como um dos compositores ninguém menos Diogo Nogueira, filho do homenageado.
O enredo “Simplesmente Elis – A fábula de uma voz transversal do tempo” gerou um dos sambas mais marcantes da história da Saracura. Um dos principais destaques da obra é o refrão principal que lembrava a canção “Maria, Maria”, de Milton Nascimento, eternizada na voz da cantora, com o “Lare larera lare larera lare la re rerere”. Esse verso foi entoado pelos componentes durante o desfile e também caiu no gosto do público do Sambódromo, o que ajudou a alavancar e emocionar ainda mais a apresentação. O interessante é que o trecho não existia na versão concorrente e foi inserido após o samba-enredo ser escolhido. Outros trechos marcantes do samba passearam por citações a canções famosas interpretadas por Elis. A melodia forte, que é característica dos sambas da Saracura, contribuiu para a qualidade musical da composição, que cresceu ainda mais na valente interpretação de Gilsinho. Tantos aspectos positivos fizeram desse um dos casos dos sambas que caíram nas graças do povo e deram a tônica imponente ao desfile da preto e branco. “A grande estrela deste meu país” tornou o Vai-Vai a estrela do carnaval de São Paulo em 2015 com uma composição inesquecível.
“Ponha um pouco de amor numa cadência e vai ver que ninguém no mundo vence a beleza que tem o samba…100 anos de samba, minha vida, minha raiz”
Compositores: Jairo Roizen, Ronny Potolski, Madureira, Marcelo Madureira, Alex Barbosa, Bagé, Toni, Tubino, Igor Vianna, Thiago Sousa, Gilson, Meiners e Victor Alves.
O meu batuque ecoou, um lindo canto de amor, a filial chegou! Naquele ano, a Unidos do Peruche retornava ao Grupo Especial após 5 anos no Acesso paulistano. Para se firmar na elite do carnaval, a Filial do Samba levou para a avenida a temática sobre o centenário do samba. A agremiação conseguiu garantir sua permanência e também nos presenteou com um dos sambas mais marcantes do ano, afirmando sua tradição na folia do Anhembi.
O enredo, assinado pelo carnavalesco Murilo Lobo, fez uma justíssima homenagem iniciando as comemorações aos 100 anos de “Pelo Telefone” (Ernesto dos Santos e Mauro de Almeida), considerado o primeiro samba registrado do gênero. A escolha da obra foi feita por meio de um concurso com eliminatórias abertas ao público. Desde o início, o samba-enredo composto pela parceria de Jairo Roizen se destacou e ganhou vários admiradores nas redes sociais, além de uma torcida cada vez maior. O concorrente campeão passou por algumas mudanças, mas nada que tirasse o brilho da obra final. Com uma melodia envolvente e letra fácil, a composição passeia por toda história do samba desde o seu surgimento. Interessantes variações melódicas acompanham a letra que cumpriu muito bem a função de fazer alusões a grandes clássicos do gênero homenageado, inclusive o mais marcantes deles, Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. Como diz a obra, “a filial chegou” ao principal grupo do carnaval paulistano e permaneceu com a ajuda de um grande samba-enredo que marcou a sua história e também a da década. Viva o samba!
“Dragões Canta Asa Branca”
Compositores: Thiago SP, Turko, Leo, R. Malva, Rodrigo Atração, Renne Campos,
Alemão da Ilha, Paulinho Miranda e Tigrão.
Vou me embora, seguir meu destino… Saindo do samba para o baião, e da tradição perucheana para a inovação da Vila Anastácio. Desde que surgiu ao Grupo Especial nos primeiros anos da década, a Dragões buscava se afirmar e conquistar seu primeiro título. Apesar de uma das escolas mais jovens do carnaval paulistano, a agremiação tricolor apresentou desfiles técnicos nos quais se tornou evidente a força da sua comunidade. Isso contribuía para o retorno ao desfile das campeãs e na esperança que o sonhado título logo chegasse. Porém, faltava uma peça muito importante que fez a diferença (ou quase) em 2017: samba-enredo. Com o enredo baseado em dos maiores clássicos da música popular brasileira, a canção Asa Branca, parecia uma difícil missão traduzir os versos de Luiz Gonzaga em samba-enredo, mas a agremiação teve uma disputa musical de alto nível. Recebendo 8 concorrentes, selecionou 5 por meio de uma audição interna e os mesmos se apresentaram na Caverna do Dragão.
A obra composta pela parceria encabeçada por Thiago SP contava a vida do nordestino com versos muito marcantes. A letra da composição narrada em primeira pessoa era totalmente envolvente e “chamava” para cantar junto. Um dos trechos mais marcantes é o segundo refrão, com os versos: “Sou nordestino arretado, sim sinhô e na bagagem trago o sonho de vencer, oh Rosinha, sem ocê não sei viver”. O verso de chamada, antes do refrão principal, também se destacou: “Não chore não, viu que eu vortarei, viu, pro meu sertão”. Outro trunfo da agremiação foi a excelente iniciativa de contar com a simpatia do cantor Fagner para entoar versos originais da canção de Gonzagão, tanto na gravação para o álbum dos sambas, quanto na apresentação oficial no Anhembi. Esse fator, aliado à simpatia da obra e à sua qualidade técnica, foi um grande trunfo para uma verdadeira explosão no Anhembi. Assim, o elemento que faltava para um cortejo definitivamente marcantes da tricolor finalmente chegou. Uma pena que o final não foi da forma como gostariam, terminando em segundo lugar, mas deixou na memória dos foliões paulistanos o maior samba da história da escola.
“O xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu – Menininha, mãe da Bahia – Ialorixá do Brasil”
Compositores: Edegar Cirillo, Marcelo Casa Nossa, André Ricardo, Dema, Leonardo Rocha e Rodolfo Alves.
Bate cabeça, abre a roda pra saudar… Mãe Menininha do Gantois! Transformando o Anhembi num grande Xirê, o Vai-Vai voltou a apresentar uma grande obra musical em um tributo a uma das grandes líderes religiosas da história brasileira. Com sua identidade musical bem delimitada, a Escola do Povo no brindou mais uma vez com uma composição digna de nota, registro e o que valha! Antes mesmo da escolha do samba oficial a ser entoado pela Saracura, a disputa da preto e branco movimentou o pré-carnaval de São Paulo com uma campeonato interno acirrado entre grandes composições em suas eliminatórias.
Nessa disputa, destacou-se o samba 8, encabeçado por Edegar Cirillo, que começou a repercutir de forma meteórica nas redes sociais, ganhando uma torcida cada vez maior. Fazendo surgir também uma das maiores personalidades da década do carnaval de São Paulo: Grazzi Brasil. A cantora ficou conhecida por dar voz à versão concorrente junto de Igor Sorriso, além de registrar uma gravação solo. A obra ganhou tanta força dentro da comunidade que a apresentação nas eliminatórias era sempre uma catarse, mostrando que não poderia existir outro campeão. A parceria conseguiu desbancar Zeca do Cavaco e Zé Carlinhos, que colecionavam vitórias na Saracura, como os dois outros sambas da agremiação nesta lista.
O samba possui uma melodia envolvente e letra muito forte.“Iaô ô iaô que lindo arco íris que oxumaré pintou” se tornou um “terceiro refrão” após o samba ser escolhido. Um outro lindíssimo trecho diz que “Eu vou lavar a alma nas águas de oxalá e sinto que o amor resplandeceu, o bem e o dom que deus lhe deu”. Confirmando seu efeito catártico mostrado na disputa, a canção se tornou um caso a parte nos ensaios técnicos. O público vinha junto com a escola e tornava a apresentação ainda mais intensa e única. Apesar do desempenho não ter sido o mesmo no desfile oficial, isso não diminui o brilho de um dos maiores sambas da década da Terra da Garoa.
“Pelas estradas da vida, sonhos e aventuras de um herói brasileiro”
Compositores: Aquiles da Vila, Guiga Oliveira, Fabiano Sorriso, JC Castilho,
Marcus Boldrini, Rafa Crepaldi, Rapha SP, Salgado Luz e Vaguinho.
Razão do meu viver, vou te emocionar, quando a Roseira passar… A Rosas de Ouro voltava a sonhar com seus tempos áureos. Após o retorno às campeãs em 2017, a escola da Freguesia do Ó almejava voos maiores e para isso decidiu contar a vida dos caminhoneiros no Anhembi. Apesar do desfile ter sido bem abaixo plasticamente, o samba-enredo foi um dos principais pontos positivos e também um dos mais marcantes da safra.
Já nas eliminatórias da Roseira, a obra que se tornaria a vencedora começou a receber um grande apoio da comunidade. Deu, assim, mais um título para a parceria encabeçada pelo compositor Aquiles da Vila, uma das mais vitoriosas da história da azul e rosa. Os sambas de 2009, 2010, 2011, 2017 e 2020 também são deles. Partindo para uma análise da letra, os versos foram narrados em primeira pessoa contando sobre a vida do caminhoneiro, com uma letra de fácil entendimento. “Canta o galo ao despertar, chegou a hora. Adeus, já vou me despedir, amor não chora” faz referência à partida de casa para uma nova jornada. Também se destaque uma bonita passagem em homenagem a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. Outros trechos marcantes são os dois refrães, empolgantes e com uma leve melodia, fazendo todos cantarem junto. O samba teve um ótimo desempenho na avenida, mesmo que o espetáculo visual não tenha acompanhado a boa qualidade musical.
“O show tem que continuar! Meu lugar é cercado de luta e suor, esperança num mundo melhor!”
Compositores: Arlindo Neto, André Diniz, Cláudio Russo, Márcio André Filho,
Marcelo Valência e Darlan Alves
Samba de arerê pra você voltar, Zona Norte é Madureira… O último samba da nossa lista é sem dúvidas um dos mais emocionantes. A X-9 Paulistana, após a permanência no Grupo Especial no ano anterior, decidiu apostar em uma justíssima homenagem ao cantor e compositor Arlindo Cruz. Para isso, a agremiação da Parada Inglesa contou com a ajuda do filho do artista – Arlindo Neto – e outros amigos e parceiros do homenageado, como André Diniz e Cláudio Russo, para compor o samba-enredo.
O enredo foi assinado pelo carnavalesco Amarildo de Mello e contou com uma grande obra à altura do homenageado. Ao invés do que aconteceu no carnaval passado, a escola decidiu encomendar o samba e contou com nomes de peso na parceria, como os já comentado. Márcio André Filho, Valência e Darlan Alves também estavam presentes. Para a divulgação da canção, foi realizada uma grande festa na quadra que contou com vários convidados. O samba possui uma letra forte e muito emocionante, com trechos marcantes como: “Aquela, que sente na pele, as chagas da vida, a dor do país, X-9 a cantar, conduz até seu lugar a luz” e o marco “Não subestime um filho de Xangô a recompor a vida…”. A melodia é diferente do que estamos acostumados a ver em São Paulo, assim como o falso refrão do meio. De qualquer forma, caiu no gosto dos foliões paulistanos e tornou-se inesquecível, embalando uma emocionante homenagem em vida a um dos maiores sambistas do nosso país.
Escolher os sambas mais marcantes da década foi uma tarefa difícil. Para isso tivemos que procurar composições que alinhassem qualidade melódica e beleza em letra. Ao chegar em 10 obras, algumas precisaram ficar de fora. Isso não diminui a sua importância na folia paulistana, visto que também marcaram de alguma forma o seu respectivo ano. Por conta disso, também separamos uma lista com mais algumas obras que por pouco não estiveram entre os escolhidos principais.
Pérola Negra 2011: Abraão, o patriarca da fé
Compositores: Mydras, Carlinhos, Regianno, Michel e Bola.
Acadêmicos do Tucuruvi 2013: Mazzaropi: o adorável caipira. 100 anos de alegria
Compositores: Felipe Mendonça, Maurício Pito, Leandro Franja, Márcio Alemão, Henrique Barba e Fábio Jelleya.
Acadêmicos do Tatuapé 2014: Poder, fé e devoção. São Jorge guerreiro.
Compositores: Marcio André, Márcio André Filho e Waguinho.
Nenê de Vila Matilde 2015: Moçambique – A Lendária terra do Baobá sagrado!
Compositores: Afonsinho, D’Malva, Dede, Jair Brandão e Rubens Gordinho.
Unidos de Vila Maria 2017: Aparecida – a rainha do Brasil. 300 anos de amor e fé no coração do povo brasileiro.
Compositores: Leandro Rato, Zé Paulo Sierra, Almir Mendonça, Vinicius Ferreira, Zé Boy e Silas Augusto.
Acadêmicos do Tatuapé 2018: Maranhão, os Tambores vão Ecoar na Terra da Encantaria.
Compositores: Fabiano Tenor, Mike e Luiz Ramos.
Vai-Vai 2019: Vai-Vai, o quilombo do futuro.
Compositores: Edegar Cirillo, Marcelo Casa Nossa, André Ricardo, Dema, Gui Cruz, Rodolfo Minuetto, Rodrigo Minuetto e Kz.
Mocidade Alegre 2020: Do canto das Yabás renasce uma nova morada.
Compositores: Biro Biro, Fabio Souza, Luis Jorge, Maradona, Rafa do Cavaco, Ratinho, Silas Augusto, Turko e Zé Paulo Sierra.
E aí, o que achou da lista? Mudaria alguma coisa, incluiria ou tiraria algum samba? E qual seria a sua lista dos sambas mais marcantes da década no carnaval de São Paulo? Conte pra gente!
Além dos textos com as listas, o #PodcastDoCarnavalize também retorna trazendo os bastidores de cada escolha, das decisões, do que discordamos e concordamos, um dia após a liberação de cada #TOP10! Os membros do Carnavalize, de quarentena, reviram vários desfiles e votaram pelos 10 destaques de sambas, desfiles, comissões de frente, personalidades… É óbvio que não faltou debate! É conteúdo pra ler e ouvir! Se liiiga e carnavalize conosco!