7×1 Carnavalize: Os melhores sambas de enredos CEP nacionais

por Leonardo Antan e Vitor Melo.

Para fazer o maior espetáculo artístico-cultural do mundo é necessário um pouco de dinheiro – talvez muito. E como sabemos, nas últimas décadas, os enredos patrocinados tem pautado as agremiações as fazendo cantar sobre os mais variados assuntos. Dentre os patrocínios, os das cidades e estados brasileiros são os mais frequentes, tanto que até criamos uma denominação específica para eles: os enredos CEP. Essas temáticas começaram a ganhar força na segunda metade dos anos de 1990 e viraram tendência absoluta nos anos 2000, tanto no Rio, como em São Paulo.

Desde então, viajamos pelos sabores, festas, hábitos e comidas pelos quatro cantos do país. Separamos, então, uma lista com os sete melhores sambas gerados de enredos CEP. 

Fazer listas é sempre difícil e algo que gera controvérsias, logo, resolvemos abranger o maior número de escolas diferentes que se destacaram por seus enredos geográficos, selecionando apenas um samba de cada.

Caprichosos 2001 – Goiás

Logo nos primeiros anos do século XXI, a Caprichosos se notabilizou por dois enredos CEP que gerariam sambas divertidos e excelentes, bem ao estilo da azul de branco de Pilares. Entre Goiás e Porto Alegre, acabamos optando pelo estado do centro-oeste. O samba com pegada evolvente, narra as belezas do estado brasileiro através do amor por uma morena que enfeitiça o narrador. Dando um fio narrativo original a obra. Em 2002, a qualidade da obra também se destaca, no já citado enredo sobre Porto Alegre. Bom lembrar que foi um desfile CEP também que marcou  o último desfile da simpática escola no grupo especial, até agora, o enredo sobre o Espírito Santo já foi citado em outra lista nossa, neste caso, por não esconder seu patrocínio. Confira aqui.

 


Vila Maria 2007 – Cubatão

Quem diria que uma cidade que não tem atrativos turísticos como Cubatão geraria um belo samba? Mas a Vila Maria pelo talento do seu carnavalesco Wagner Santos soube driblar as dificuldades e transformar a história do município que foi prejudicado pelo avanço industrial na região num enredo bem desenvolvido que gerou um samba poético e forte alertando sobre as questões ambientais, destaque na safra paulistana daquele ano. O enredo impactou pelo bom trabalho plástico e a escola garantiu a segunda colocação. 


Mangueira 2013 – Cuiabá

É aquele ditado, não é mesmo? Com a velha Manga ninguém brinca. Depois de uma série de enredos musicais, a polêmica administração de Ivo Meirelles estava repleta de dívidas e o jeito foi optar foi pelo dinheiro da capital do Mato Grosso. Mesmo com o enredo sem tanto apelo poético, os compositores da verde e rosa não decepcionaram e fizeram um samba à altura da tradição dessa escola icônica. A narrativa do enredo era amarrada pela chegada poética do espero trem a cidade, que tinha como piloto ninguém menos que lendário mestre-sala Delegado. Apesar de terminar apenas no oitavo lugar, a escola ganhou o estandarte de melhor escola daquele ano.



Pérola Negra 2012 – Itanhaém

Alguém aí (não vale paulistas, hein!), sabe onde fica Itanhaém? Graças ao Google, podemos dizer que uma das cidades litorâneas de SP, ali na baixada santista. E também que é a segunda cidade brasileira mais antiga, vejam só. Mas bem, de certo é que o samba da Pérola Negra divulgou as belezas desse município pra Brasil inteiro cantar. E fez isso muito bem. O belo samba segue uma linha mega tradicional em enredos desse tipo: exaltando as belezas locais, os hábitos religiosos, as principais festas. A diferença é a qualidade da obra, que costura tudo de maneira poética. Infelizmente, a escola acabou sendo rebaixada pelo desfile, o que qualquer bom folião considera uma grande injustiça.


Imperatriz 1995 – Ceará


Se a gente quiser achar um início para esse modelo de enredo, pesquisando um pouco, provavelmente chegaremos a esse desfile da Imperatriz. É verdade que tudo começou com a genialidade de Rosa Deus Magalhães ao descobrir essa curiosidade histórica que envolve jegues e camelos. Mas com o destaque da escola de Ramos na época, o patrocínio do estado veio muito bem a calhar. O enredo então que se chamava “Mais vale um jegue que carregue que um camelo que me derrube”, ganhou o “lá no ceará” ao final. Falando de CEP, Imperatriz e Rosa Magalhães não dá pra esquecer as duas voltas que essa genia deu em 2002 e 2004, quando os enredos sobre Campos e Cabo Frio, viraram duas aulas sobre a antropofagia e a cor vermelha. A polêmica foi longa com direito a processo de Campo que acusava a escola de não cumprir o contrato. Não se brinca com Deus. AmémAmém!


Grande Rio 2011 – Floripa

Sempre na busca de um trocado a mais, a tricolor de Caxias se notabilizou ao longo deste século pelas apresentações acerca de cidades brasileiras. Tudo começou lá em 2006, no delicioso samba sobre o Amazonas, um dos melhores da história recente da escola. Depois disso, foi um CEP atrás do outro. Em 2007, com homenagem a sua cidade natal, Duque de Caxias. No ano seguinte com Coari, município do Amazonas, famoso pelo refino de gás. E mais recentemente em 2014 e 2016, com as viagens por Maricá e Santos. Mais dentre todos esses, o samba que ficou eternizado na memória carnavalesca foi o do trágico ano de 2011, marcado pelo incêndio que destruiu o barracão da escola um mês antes do desfile. A valente canção sobre a capital de Santa Cantarina embalou um desfile emocionante e cheio de garra da escola. Será que se não fosse o fogo, a tricolor teria sido campeã? Nunca saberemos, mas a beleza da ilhas das Bruxas ficou eternizada nesses versos. 


Beija-Flor 1999 – Araxá


Quem disser que enredo CEP não gera bom samba, tem que consultar o histórico da maior campeã deste século. A sempre polêmica Beija-Flor emplacou o maior número de enredos CEP nos últimos dezenove carnavais. Começando lá com o título de 98, dividido com a Manga, sobre o estado do Pará. Desde então foram mais cinco enredos sobre localidades brasileiras, sem contar os de temática africana. A maioria deles, destacou-se por excelentes sambas, a tarefa de escolher um só foi pra lá de difícil. Como optar pelo samba valente que embalou o campeonato de 2004 sobre Manaus (avante a tribo beija-flor). Depois outro título com o desfile sobre Macapá em 2008 (o meu valor me faz brilhar). Fora os títulos, restam ainda a viagem mística a Poços de Caldas em 2006, a homenagem aos 50 anos de Brasília em 2010 e a comemoração ao aniversário de São Luís, em 2012. Dentre todos, escolhemos a belíssima obra de 1999 sobre a cidade mineira de Araxá (oba-oba), quase unanimidade do carnaval.
Bem, com essa lista a gente prova que essa história de que enredo sobre localidades não gera bom samba é um grande mito. Não estamos tão pouco defendendo essa linha temática, nós queremos mais é que as escolas se reinventem e busquem histórias novas e inspiradas. Afinal, uma hora vão acabar todas as cidades brasileiras capazes de virar um samba digno, não é mesmo? Mas é sempre interessante observar como essa tendência se consolidou nas última décadas, nos fazendo viajar do Oiapoque ao Chuí.  
Bye bye…

Até o próximo 7×1!

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