As pérolas das justificativas do carnaval 2020


Quarantenou e não é fake news! A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) ajudou todo mundo que tá vivendo de isolamento em casa e resolveu, em plena quinta-feira de coronavírus, divulgar as justificativas do carnaval 2020. Como diria a Imperatriz em 2011: a cura do corpo e da alma no samba está!
Mais um ano, o Carnavalize fez aquele filtro bonito para você não ficar de fora dessa aventura:
em meio a caligrafias caóticas, incompreensões e mensagens bem esquisitas, separamos o que há de mais curioso – engraçado, triste…?! – nas rasuras e nos rabiscos do júri do Grupo Especial carioca.
E aí, será que tivemos muitas complicações? Simbora conferir! (Ah, quando acabar, leia as pérolas de 2018 aqui e as de 2019 aqui! Aproveite o isolamento e #Carnavalize conosco!)

Começando por um dos quesitos mais badalados das pérolas: comissão de frente. Como já mostramos em número em um ensaio sobre o quesito, ele é dos mais difíceis de gabaritar e geralmente conta com justificativas beem curiosas!
O primeiro módulo contou com uma caligrafia complicada. Sendo a única a canetar o Salgueiro, a julgadora criticou o posicionamento do tripé e disse que ele ficou escondido atrás de umas das caixas de som da avenida! Não será hora de repensar a localização destas…?
 

Quais são as palavrinhas mágicas? Engana-se quem diz “obrigado e por favor”! Para o julgador de comissão de frente do segundo módulo, são “utilização, exploração e distribuição de materiais”. Ele colocou a frase no repeat e utilizou essas mesmas palavras em 4 justificativas: Estácio, Mangueira, Tuiuti e São Clemente!  


Já no módulo 4, a julgadora de comissão foi preparada para a avenida: levou adesivos e colou 13 estrelas (PT?) em homenagem às agremiações! Olhe as observações dela:

No quinto módulo, o julgador de
comissão de frente parecia bastante carente. Ele baseou alguns de seus
descontos – como na Viradouro e no Tuiuti – pelo fato de que os tripés não
viraram para a cabine, prejudicando a visão do todo! Será que ele acha que as
apresentações têm que ser exclusivas ao júri e não podem ser feitas em 360º…?
Fica a dúvida!  

Se o julgador de  comissão
de frente do segundo módulo tem as suas palavrinhas mágicas, não podemos dizer
diferente da União da Ilha em fantasias. A escola que deixou 1 ponto no quesito
vai ter pesadelos com os termos: “fator carnavalesco”, “carnavalização” e
“apuro estético”, que apareceram nas justificativas dos três primeiros
julgadores.


Ainda em fantasias, no segundo
módulo, ainda que as notas tenham saídas certas no mapa, a julgadora mostrou
que foi nas aulas de belas-artes e de caligrafia (sugestão, Liesa, pro ano que
vem!)… mas faltou dar atenção à aula de decimais em matemática! Em todas as
justificativas, ela tirou menos do possível, e se embaralhou nas casas
decimais! -0,01 dá 9,99, gente!
 Também no quesito que
avalia os figurinos, uma julgadora – que não é marinheira de primeira viagem –
parece que esqueceu que guardiões, ainda que tragam roupas “lindíssimas e
especiais”, nas suas palavras ou nas de Maria Augusta, não são
figuras obrigatórias! Canetando a Mangueira em 3 décimos, em uma das notas mais
controversas do carnaval, a mesma julgadora também discursou sobre a simbologia
da cruz de Jesus e disse que “A auréola associada à estética LGBTI+ não
proporcionou o efeito esperado e não transmitiu a mensagem proposta”. Vai
vendo…


Indo para outro quesito,
alegorias e adereços são bem impactantes e geram polêmicas, como o único
julgador do ano – e o primeiro de muitos! – a não dar 10 para nenhuma
agremiação. O canetador do módulo 1 fez justificativas “ficais de
erro”, catando deslizes em cada uma das escolas, indo à risca o modelo
proposto pela Liga.  Na Grande Rio, que contou com um dos melhores
conjuntos alegóricos do ano, sobrou até para o “excesso de técnicos (empurradores)”
nos chassis do abre-alas:
“Faltava a hélice da cauda
do helicóptero” e ônibus “inexpressivo”. Você já sabe de qual
escola estamos falando, né? Só a Ilha poderia fazer a segunda jurada de
alegorias escrever isso no seu caderno:
A mesma julgadora tirou ponto
das alegorias da São Clemente pela ausência do destaque da “esposa
perfeita” do “presidente perfeito”. O conceito ficou pouco
explícito: esposa perfeita não existe!
  

No terceiro módulo de alegorias
e adereços, a Mangueira foi descontada sob alegação de “peso visual
pejorativo” em seu terceiro carro, um dos mais belos da verde e rosa. O
que será que significa isso na cabeça do julgador?



Como observação à Estácio de Sá,
o mesmo julgador deu uma explicação sobre as cores naturais das minas, minérios
e PEDRAS, para que Rosa Magalhães…. não esquecer… Será que também é
geógrafo?
E, ainda falando da professora,
o júri que compôs o quinto módulo de alegorias descontou a Estácio porque o
conjunto alegórico estava “irregular quanto ao tamanho das alegorias entre
si”. Ou seja: faz tudo gigante!


Enquanto isso, em Mestre-Sala e Porta-Bandeira, sempre um recatado quesito, para um 9,9 do segundo módulo ao casal da Mangueira se falou, falou, falou e ficaram… dúvidas e perguntas! 
No quesito samba-enredo, o julgador
do terceiro módulo foi bastante nostálgico na avaliação da obra da União da
Ilha!

No quarto módulo, a julgadora
deixou explícito que, se fosse corretora do Enem, não teria caveirão certo com
ela, muito menos receita de miojo. Ela despontou a São Clemente e fez questão
de sinalizar a falta de originalidade do refrão principal, que, segundo ela,
cabia “em qualquer outro samba” da agremiação. 


Finalizando o quesito
samba-enredo, o julgador do quinto e último módulo deixou registrado nos dois campos
destinados às observações – domingo e segunda – que segue a tendência
conservadora que assola nosso país. Aos compositores, atenção!


Já em enredo, a Estácio recebeu uma aula de mineralogia, o quinto e último julgador do quesito enredo deu uma profunda
explicação de onde vem e como podemos encontrar o ouro antes de também tirar
uns décimos da escola do morro de São Carlos.
Já que falam que a Unidos de
Padre Miguel não sobe porque só pode ter uma escola do bairro, depois da
declaração do quarto julgador de enredo que elogiou a escolha de enredo
Mocidade Independente de Bangu, a UPM tem chances?
Partindo à pista, evolução não
trouxe grandes incômodos de leitura! Curioso foi saber que os fotógrafos
atrapalharam a evolução do Tuiuti, deixando um “espaço poluído” ao segundo julgador!
No quarto módulo, Viviane Araújo foi citada. Rainha das rainhas, né?! A julgadora de evolução penalizou a Academia do Samba pelo excesso de compactação e, para isso, sinalizou a falta de espaço pra rainha da bateria se apresentar:
Assim como o corretivo da ainda quarta julgadora do quesito evolução, para o efeito de quaisquer críticas, elogios e sugestões, a realização desse texto é de  nossa responsabilidade. Quem nunca errou que atire o primeiro liquid paper!
Em harmonia, o julgador do segundo módulo
foi incisivo ao dizer que, na Estácio, algumas alas apresentavam “nenhum
canto”. Eita!  
E todo ano algum deles se
arrisca a fazer algum desenho ou gráfico para explicar os descontos. Dessa vez,
foi com o Tuiuti, no segundo julgador de harmonia! Pianíssimo até quase
desaparecer… Escritos de harmonia ou como queremos ver o coronavírus?

Ainda no quesito, a julgadora do terceiro módulo questionou a presença de uma voz feminina no carro de som da São Clemente. Poxa, julgadora, uma voz feminina destoa? Porque é feminina…? Ficou estranho!
A mesma jurada ainda deixou uma sugestão curiosa…

No quesito bateria, teve o desencontro rítmico entre as justificativas dos julgadores do primeiro e do segundo módulo. Posicionados justapostos, na mesma altura da avenida, um reclamou da falta de bossa da bateria da Mocidade, enquanto outro elogiou exatamente uma “paradinha” antes de penalizar a escola:

 No quinto módulo de
bateria, ficamos na dúvida se o julgador estava analisando a orquestra ou se
estava fazendo comentários sobre um crush! Tem que ter pegada, né?
Mas duas ponderações
importantíssimas foram feitas no quesito bateria! Os julgadores do primeiro e
do segundo módulo, que ficaram na altura do Setor 3, reclamaram do som da
avenida, problema que continua assombrando muitas escolas… Têm razão de
sobra!


E a gente quer finalizar as
pérolas relembrando que torcemos muito para um carnaval cada vez mais justo,
com justificativas competentes e condizentes com o visto na pista sagrada da
Sapucaí! 

Por isso, encerramos nossa lista
com o comentário da segunda julgadora de fantasia, que parabeniza os artistas
da festa e dá a letra: “em um cenário em que tentam cada vez (mais)
asfixiar nossa cultura popular, o carnaval resiste”. É isso! Não
sucumbiremos! 

 

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