#Colablize: A participação dos desfiles das escolas de samba no audiovisual brasileiro

Arte de Lucas Monteiro

Por Giovanna Brammer
Seja em versos como “Apresenta o Rio no cinema / Já não há mais lugar pra nos ver da passarela”, do Salgueiro, ou, para os mais chegados na terra da garoa, o “Vem ver o meu Império a brilhar / Um filme pra te emocionar”, do Império de Casa Verde, e ainda as inúmeras referências de filmes em desfiles de Paulo Barros, uma coisa é certa: as produções audiovisuais fazem parte da folia. 
Mas e quando a arte imita ou faz referência a um outro estilo de arte, não se torna algo mais bonito ainda? 
Vamos evidenciar filmes, séries e novelas que falam e conversam com os desfiles das escolas de samba de alguma forma. Portanto, os documentários – que são criados para exatamente exaltar o que foi realizado – ficarão de fora. Porém sim, há muitos bons documentários dos quais poderíamos falar (talvez em uma outra oportunidade?).
E também não apresento aqui uma lista, mas alguns exemplos para evidenciar o casamento perfeito entre audiovisual e carnaval e como ele pode ser bem aproveitado.
O carnaval é parte fundamental para a construção de um cotidiano brasileiro. Mesmo que a pessoa não goste dos desfiles em si, em algum momento ela esbarra em uma apresentação que foi comentada fora do momento de folia ou, como dizemos, em um desfile que furou a bolha. Seja em um samba-enredo entoado numa roda de samba, regravado por um intérprete de MPB ou em uma abertura de novela das seis, todos os dias em seus ouvidos, como foi em Lado a Lado, em 2012, usando o eterno “Liberdade, Liberdade” da Imperatriz Leopoldinense em 1989. 
Usar os desfiles como pano de fundo para alguma história evidencia como esse movimento está inserido. Em 2004, na famosa e icônica telenovela Senhora do Destino, vimos o brilhante José Wilker no comando de uma escola de samba, homenageando em seu desfile a personagem Maria do Carmo, protagonista interpretada por Susana Vieira. O personagem de Wilker, o ex-bicheiro Giovanni Improtta, representou uma imagem de presidentes de instituições, que sempre estão ali para sua comunidade, auxiliando na construção de um desfile e sendo completamente apaixonado, encantado e viciado por sua escola.
Maria do Carmo (Susana Vieira) e Giovanni Improtta (José Wilker). Foto: Divulgação/O Globo.

Já em Império, 10 anos depois, o imensurável Comendador José Alfredo, vivido por Alexandre Nero, foi enredo de uma escola de samba fictícia, culminando, inclusive, em momentos de tensão na novela causados por tal desfile. Sabemos o tamanho das novelas no Brasil e usar a montagem, construção e ideia de um desfile de escola de samba em horário nobre da televisão brasileira traz mais para perto e dá o ar de representatividade para quem vive isso o ano todo.
Elenco de Império desfilou na Sapucaí. Foto: Divulgação/O Globo.

No campo das séries, algo relativamente recente no Brasil, não tão forte como no exterior, mas que vem crescendo aos poucos, ainda são poucas as novidades. Em novembro do ano passado, o Carnaval se via referenciado e representado por uma série bem específica, que dialogava conosco. Encantados, do Globoplay, tem o Carnaval como uma referência, que ajuda os protagonistas e personagens a conviver em seu dia a dia.
Porém, nos filmes, já encontramos maior representação, de alguma forma. Temos Orfeu, que foi gravado em um desfile da Viradouro, e foi lançado em 1999. Trinta, em 2014, que é uma cinebiografia protagonizada pela atuação incrível de Matheus Nachtergaele, contando a história de Joãosinho Trinta.
Um dos meus filmes favoritos é Apaixonados, lançado em 2016, que tem como pano de fundo o desfile da Acadêmicos do Grande Rio desse mesmo ano – com samba e tudo! 
E hoje, mais recentemente, a Amazon lançou, em seu serviço de streaming, o primeiro filme da coletânea de “Um Ano Inesquecível”, com foco no Verão e no desfile (mútuo, já que juntou 2020 com 2022, possivelmente pela pandemia) da Portela, mostrando os casos de montagem real do desfile, vez que foi muito mais gravado dentro do barracão da Portela na Cidade do Samba do que em quadra ou até mesmo no dia do desfile.
A ideia de expor os desfiles em obras audiovisuais é importante para aproximar a realidade que tanto nos cerca da vida comum de todos. Dizer que a montagem e pesquisa de um carnaval não é apenas em fevereiro e que a vida ali não é só a festa. Temos problemas, construções de narrativas – pessoais e sociais – e que podem gerar empregos e conhecimento. São vidas contadas, seja do âmbito profissional ou pessoal, com decisões de vida, rotinas e tudo o que envolve o que a gente já sabe viver diariamente.
É sobre se sentir representado, parte de algo especial que vivemos, ser exposto a muitas pessoas. Largar a ‘síndrome de vira-lata’ que nos assola e dizer que sim, nós temos algo a ser exportado. Inclusive, exportado em 2011, quando lançado Rio, sucesso de bilheteria, que expunha a felicidade e ansiedade do Rio de Janeiro – no âmbito dos humanos e animais – ao chegar o Carnaval. O filme, mesmo cheio de alguns estereótipos errados sobre o Brasil, trouxe o desfile das escolas de samba como um ponto importante, sendo o momento de tensão final. 
Cabe a nós também consumir tais obras, para que elas tenham mais sucesso e se multipliquem. Comemoremos o sucesso de séries como Encantados, de filmes como Um Ano Inesquecível – Verão, pois demonstra a essas novas produtoras – que ainda bem que estão interessadas em fazer produções brasileiras –  que os desfiles podem ser pano de fundo para inúmeras histórias, sejam elas de produção de um carnaval, ou apenas como ideia para um mocinho e uma mocinha se encontrarem, sobre amigos que são do samba, enfim, inúmeras vivências para se produzir.

Em Encantados, um supermercado é também quadra de escola de samba. Foto: Sérgio Zalis/Splash UOL

Podemos sonhar sim com filmes e séries contando, cada vez mais, com essas referências, com representações nossas, pois têm aproximado as pessoas do carnaval e de seus movimentos. E que os dirigentes, tanto das ligas, quanto das escolas, se mostrem receptivos a esses projetos, abrindo as quadras, suas vivências e experiências, não apenas para documentários. Porque já não são mais sonhos, são realidades que, mesmo lentas e com dificuldade de crescimento, estão aí em nossa vida.
Caso algum produtor audiovisual esteja lendo este texto, saiba que meu sonho de garotinha é um Romeu e Julieta baseado na Mangueira e na Portela, numa rivalidade tal como de times de futebol, porém entre duas escolas gigantes. E ah, também se faz desfiles de escolas de samba em São Paulo, hein? Dá pra se fazer muitas obras por aqui! 

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