Os Cinco Mais: Sambas que fizeram história na “era Anhembi”

Foto: Flávio Morais/G1
Por Alisson Valério
Um desfile de escola de samba tem vários quesitos fundamentais. Comissão de Frente, Bateria, Mestre sala e porta-bandeira…, mas o nome “escola de samba” tem um motivo primordial: o samba! Sendo assim, é bem difícil escolher apenas cinco grandes sambas para retratar os mais de 25 anos de história do sambódromo do Anhembi. Por isso, dessa vez temos os cinco mais marcantes e um extra que não poderia faltar. Abaixo, você confere os cinco + um dos sambas inesquecíveis do Carnaval Paulistano.
E aí, preparados? Então vamos lá que o esquenta terminou e está na hora do samba começar.
Mancha Verde –
2006
(Compositores: Vaguinho, Douglinhas e Jaú)
Foto: Almeida Rocha/Folha Imagem
A Mancha
Verde entrou na avenida em 2006 para falar sobre os injustiçados e perseguidos
na humanidade em geral e foi embalada pelo samba dito por muitos como o melhor
samba de sua história. O ano foi repleto de adversidades para a escola,
incluindo um incêndio as vésperas do desfile, mas a Mancha não se abateu e foi
para a luta. O que falar desse samba? É um daqueles sambas que te conquistam e
emocionam desde a primeira ouvida e ficou ainda mais bonito sendo entoado por
todos no amanhecer do dia no Anhembi. Contando com uma performance inspirada da
bateria, do canto forte e aguerrido da comunidade e uma performance digna de
aplausos do time de canto liderado pelo interprete Vaguinho o samba cresceu
ainda mais ao vivo. Foi realmente um desfile inesquecível e emocionante que
contou com a ajuda de um samba que entrou para a história do Carnaval de São
Paulo. O mundo não vai me calar, injustiças não vão me deter, das cinzas se
renasce para a vitória, na adversidade se aprende a crescer, são fatos que
descrevem nossa história, o verde é a razão do meu viver! A Mancha Verde vestiu
a camisa do samba na avenida, perseverou, lutou, não desistiu… resistiu!   
 
A ópera vai começar ô ô ô
Bem-aventurada, guerreira
A Mancha chegou!
Mocidade Alegre2012
(Compositores: Vitor Gabriel, Fernando, Renato Guerra, Leandro Poeta, Thiago e Rodrigo Minuetto)
Foto: AFP
A Mocidade Alegre em 2012 resolveu
homenagear Jorge Amado através do livro Tenda dos Milagres que falava sobre a
cultura afro-brasileira e tinha como foco principal Ojuobá. Com o tema
escolhido, a escola teve uma disputa de samba-enredo de alto nível que culminou
na escolha da obra que tinha no refrão, o trecho “o rufar do tambor vai ecoar,
tenho sangue guerreiro, sou Mocidade” que se encaixou perfeitamente com o
momento que passava a escola do bairro do Limão naquele Carnaval. 40 dias antes
do desfile, a agremiação teve um incêndio em seu barracão que levou parte de
suas alegorias e fantasias para o Carnaval. Um mutirão entre componentes e
torcedores da escola tentou remediar o prejuízo daquele dia em diante, mas
muita gente duvidava do que a escola seria capaz de fazer no Anhembi. Quando, o
povo do Limão entrou na pista, o Anhembi foi tomado em transe junto da
comunidade da escola e isso não teria acontecido sem a força do samba. Com uma
composição extremamente forte do começo ao fim e que fazia inúmeros jogos de
palavras com marcas registradas da escola e o tema do enredo, a trilha-sonora
do desfile funcionou perfeitamente naquela noite. A bateria Ritmo Puro
valorizou e muito a obra da escola e ajudou a contagiar a arquibancada. Com
tudo isso, a Mocidade Alegre não podia ter outro resultado a não ser o
campeonato que foi confirmado numa apuração tumultuada. Entretanto, isso só
aconteceu graças ao belíssimo samba, um dos maiores da história do Anhembi. Na
morada dos milagres, um verdadeiro milagre da Morada do samba…
O rufar do
tambor vai ecoar
Tenho sangue guerreiro, sou Mocidade


A luz de Ifá vai me guiar
Ojuobá espalha axé, felicidade

Vai-Vai – 2011
(Compositores:Zeca do Cavaco, Ronaldinho FQ, Fábio Henrique e Afonsinho)

Foto: Fernando Donasci/UOL

Quando a Escola do Povo resolve fazer uma
homenagem é bom se preparar que vem coisa muito boa por aí e não foi diferente
em 2011 quando o Vai-Vai decidiu fazer uma merecida homenagem ao grande maestro
João Carlos Martins. Uma história regada de superação e talento merecia ser
contada em forma de desfile e a escola do Bixiga apostou nisso para partir em
busca da conquista de mais um título. A obra escolhida para entoar esse desfile
foi uma das mais lindas da história da escola, coisa que não é fácil de se
fazer, pois o Vai-Vai tem uma extensa coleção de grandes sambas, mas esse em
particular mexeu e mexe até hoje com o coração e a emoção de todos, com uma
combinação perfeita entre letra e melodia o resultado não poderia ser
diferente. Um grande samba não é nada sozinho e contando com uma bateria
inspiradíssima sob o comando do Mestre Tadeu, um carro de som afinadíssimo
liderado pelo interprete Wander Pires e a garra já característica da comunidade
da escola ele se tornou ainda mais bonito. O desfile foi emocionante do começo
ao fim, emocionando a todos no Anhembi, inclusive o maestro João Carlos Martins
e não tinha como ser diferente. Um momento inesquecível não só para o
homenageado, mas para todos os amantes do Carnaval de São Paulo. O título foi
conquistado com louvor e merecimento, sem a menor dúvida. Da emoção o Vai-Vai
resplandeceu…
Feliz da vida lá vem o Bixiga
Exemplo de comunidade
A Música Venceu
O dom é luz que vem de Deus
Da emoção, Vai-Vai resplandeceu
 
Gaviões da Fiel – 1995
(Compositor: Grego)

Foto: Ouro de Tolo

Vindo de
um segundo lugar no ano anterior, os Gaviões da Fiel vinham em busca de algo
mais no ano seguinte. Com um enredo que falava das coisas boas dos tempos de
criança que ficam para sempre gravados na nossa memória e que se juntava a
comemoração de 25 anos da escola de samba parecia ser a receita perfeita para o
sucesso. E o samba? Ah, o samba fez muito sucesso antes mesmo do desfile e foi
entoado fervorosamente pela arquibancada antes mesmo do desfile iniciar e
quando o desfile começou foi arrebatador, com a ajuda de uma bateria afinada e
mais uma performance especial do interprete Ernesto Teixeira abrilhantaram
ainda mais o samba fazendo um verdadeiro sacode no Anhembi. O resultado foi o
primeiro campeonato dos Gaviões da Fiel de forma incontestável com um samba que
assim como o desfile também ficou para sempre gravado na memória. Levantaram a
taça com muito orgulho para delírio da Fiel.    
Me dê a mão, me abraça
Viaja comigo pro céu
Sou gavião, levanto a taça
Com muito orgulho, pra delírio da Fiel
 
Império de Casa Verde – 2005
(Compositores: Vaguinho, Carlos Junior e Raphael)
 

Foto: Keiny Andrade/Folha Imagem

Após o
terceiro lugar de 2004, a então caçula do Grupo Especial resolveu levar para a
avenida o enredo “Brasil: Se Deus é por nós, quem será contra nós?”. Esse
enredo tinha o versículo bíblico como título, mas levava ironicamente tudo o
que acontecia no mundo como uma alerta ao que futuro nos reservava. O futuro,
entretanto, tinha uma terra prometida que na visão do enredo era o nosso
próprio Brasil. A partir daí, era como se o desfile mostrasse tudo que há de
ruim ao redor de nós, só que apesar disso, o Brasil tinha o potencial de ser
totalmente diferente do que víamos até então. Com esse enredo, muita gente
imaginaria um samba complicado e confuso. Mas o que a escola da Zona Norte
levou para a avenida foi um dos maiores sambas da história do Anhembi. Já no
amanhecer e encerrando o primeiro dia de desfiles daquele ano, a composição que
tinha muita beleza de letra e uma melodia simplesmente fantástica fez um
verdadeiro estrago no Anhembi. A obra encantava a cada verso quem ouvia antes,
durante e depois do desfile. Além da beleza irrepreensível do samba, a condução
de bateria e do intérprete Carlos Júnior ajudaram ao samba fazer ainda mais
sucesso naquela manhã de Sábado. O resultado, certamente, não poderia ser
diferente de o primeiro campeonato para a azul e branca. Por tudo isso, a obra
de 2005 da caçula do Samba é um dos cinco maiores sambas que o Anhembi já viu.
Afinal, o samba foi a verdadeira estrela desse Carnaval…
Amanheceu
Desperta amor, é novo dia
E com o Sol vem meu Império
Nesse sagrado paraíso da alegria
 
Bônus: Rosas de Ouro  2005
(Compositores: Emerson de Paula, Osmar Costa, Dema de Deus)
Foto: Jefferson Coppola/Folha Imagem
Em 2005, a
Sociedade Rosas de Ouro levou para o sambódromo do Anhembi, um enredo que tinha
tudo a ver com sua história. Intitulado com o nome de “Mar de Rosas”, o tema
apresentado falaria sobre todos os tipos de Rosas que a humanidade já viu,
terminando, obviamente, na escola. A escola entrou na avenida de forma
diferenciada. Além do fato do enredo ter a conexão natural com o espírito da
escola, o céu estava azul e rosa (cores da escola) esperando a Roseira passar.
Era emocionante. Junte ao enredo e ao céu propícios para um desfile fantástico,
um samba histórico e temos tudo que o Anhembi viveu naquela manhã de sábado. O
samba da escola da Freguesia do Ó contava com uma belíssima letra unida a uma
das melodias mais fantásticas que o Carnaval Paulistano já viu. Mesmo com a
beleza natural do samba, a performance da bateria com uma cadência espetacular
e do time de intérpretes liderados por Polenghe do Cavaco – este substituiu
Darlan Alves em cima da hora por conta do regulamento – fez o samba ficar ainda
mais bonito em sua performance no desfile. Por tudo isso, é impossível falar
dos grandes sambas da história do Anhembi sem citar o inesquecível samba de
2005 da Roseira. Iemanjá, abra os caminhos que a Roseira vai passar…
Um mar de rosas
De ouro pra entregar
Iemanjá, abra os caminhos minha escola vai
passar…
Esses
foram apenas alguns dos grandes sambas que ficaram para a história do Anhembi
como tantos outros que infelizmente ficaram de fora dessa lista, mas que também
estão vivos na nossa memória. Para continuar conhecendo mais do Carnaval de São
Paulo acompanhe a série “Os 5 mais”.

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