Respeito às escolas de samba! Um manifesto pela cultura popular e a folia brasileira

 

por Equipe Carnavalize
Nos últimos dias, o debate quanto ao cancelamento/adiamento do Carnaval do Rio de Janeiro voltou à tona após o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, anunciar o cancelamento do carnaval de rua da cidade. Apesar da garantia dos desfiles na Sapucaí como evento fechado, tal posição coloca em xeque uma das maiores manifestações culturais do país, afetando diretamente a economia de muitas famílias.
Entraram no debate alguns parlamentares, como a vereadora Tainá de Paula (PT) e o vereador Tarcísio Motta (PSOL), sendo o último presidente da Comissão Especial do Carnaval na Câmara Municipal. Houve também as manifestações de membros do comitê científico do Rio de Janeiro como o médico epidemiologista Roberto Medronho.
Em meio aos discursos contrários à realização do evento, despontou uma rivalidade falaciosa entre os blocos e grupos carnavalescos do “carnaval de rua” e os “carnavais fechados”, no qual incluíram os desfiles das escolas de samba. Taxaram os desfiles como elitistas pelo fato de ser um evento com venda de ingressos, ignorando a atuação histórica das escolas e o universo cotidiano que move a realização dos cortejos. Nós do Carnavalize, enquanto um veículo de comunicação que defende o ano inteiro as escolas de samba e a história do Carnaval, nos vimos na posição de dialogarmos mais sobre essa questão. 
Não sabemos se ainda restam dúvidas, mas as escolas de samba e seus desfiles NÃO são espaços elitistas. Traduzi-los dessa forma representa um imperdoável desconhecimento sobre a formação das maiores instituições socioculturais já surgidas no Brasil. Pensar essas manifestações culturais a partir de uma abordagem dualista, onde um representa o verdadeiro carnaval, e o outro aspirações elitistas, não é somente um erro, mas também uma abordagem que ajuda a perpetuar preconceitos e falsas concepções sobre o Carnaval como um todo. A folia brasileira é parte fundamental da nossa identidade nacional, sendo não só uma festa mas também um grande acontecimento cultural e artístico que se tornou reconhecido no mundo inteiro. 
Pensar essa questão sem abordar as contradições presentes nos discursos presentes no debate público é perigoso, haja vista que há um movimento pronto para colocar ainda mais o carnaval em xeque, daqui quase dois meses, em contrapartida da realização com normalidade de diversas atividades que promovem grandes encontros de pessoas por todo o Estado nos dias de hoje. O movimento se torna um jogo político, ainda mais ao se ver recomendações de órgãos favoráveis à realização de eventos em espaços fechados em oposição aos ensaios realizados nas ruas, em espaços abertos, os quais a ciência afirma serem os locais mais propícios para o momento.
Para além disso, o debate que não leva em consideração o âmbito socioeconômico e o impacto do carnaval sobre esse aspecto se lança de cabeça num ataque somente ao Carnaval. Sabe-se que o desfile das escolas de samba é responsável pela movimentação de mais de 3 bilhões de reais, com altíssima arrecadação de impostos em valor aproximado de R$180 milhões. Além disso, mais de 30 mil empregos formais diretos são gerados. As escolas de samba abrigam diversos trabalhadores que encontram na realização da festa seu principal sustento. Atingidos diretamente no último ano por conta do cenário pandêmico e pela falta de políticas públicas que assegurem suas condições, haveria um impacto ainda mais profundo no caso da não realização dos desfiles.
A defesa da vida se faz necessária em todos os momentos, e justamente por isso, abordar o cancelamento dos festejos carnavalescos à essa altura, sem uma pressão para combater os eventos ocorrendo na cidade todos os dias, a questão dos transportes públicos e as aglomerações geradas em consonância com os preços exorbitantes, não é vestir a camisa da vida, e sim lançar mão da hipocrisia.
Vacinem-se e não recuem. Defender as nossas escolas de samba é um compromisso com seus valores pessoais e cada um dos componentes das agremiações, de desfilantes a trabalhadores. É não fechar novamente os olhos para quem teve pouco ou quase nada durante os quase dois anos que a pandemia nos assola. No fim das contas, somos nós, sambistas, por nós mesmos. Sigamos juntos defendendo o que nos move.

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