SALVE JORGE! 5X O maior guerreiro de todos

por Vitor Melo e Leonardo Antan.
Salve Jorge!
Ogunhê Ogum!

23 de abril. Dia marcado pela devoção ao Santo Guerreiro, comemorado em todo Brasil, principalmente no Rio de Janeiro – ainda que a Cidade Maravilhosa possua como padroeiro São Sebastião (Oxóssi, no sincretismo). É inegável dizer que o guerreiro da Capadócia se tornou o santo mais venerado e popular aqui pelas bandas da Baía de Guanabara. E no samba não é diferente, já que este tem ligação desde sua origem com as religiões de matrizes africanas. Muitas das nossas escolas que veneramos hoje em dia têm na lança de São Jorge sua proteção. Beija-Flor, União da Ilha, Império Serrano e Estácio de Sá são algumas das agremiações protegidas pelo padroeiro. Nesse dia tão especial para muitos cariocas e para nós, sambistas, resolvemos listar cinco grandes sambas que homenagearam não só o Santo Guerreiro, mas também o orixá da forja, o grande deus da guerra africano: Ogum. 

                      Império da Tijuca – 2007              

“Eu te sinto pelo ar/Eu te vejo no luar/O Morro da Formiga em procissão/Faz a sua homenagem ao santo de devoção”


Um samba que permaneceu no imaginário dos sambistas por conseguir sintetizar a força do Guerreiro foi o primeira da nossa folia a abordar a história do santo católico em todo o seu desenvolvimento. Exaltou Jorge por meio de sua trajetória, seus festejos e seu sincretismo com os cultos afro-brasileiros. A obra musical valente tinha uma letra forte com um enredo claro e bem desenvolvido.

Na hora da apresentação da agremiação da Tijuca, entretanto, o canto da escola deixou um pouco a desejar. A plástica assinada pelo carnavalesco Sandro Gomes foi competente e rendeu bons momentos que ajudaram a escola do Borel alcançar uma honrosa quinta posição. Ligue o play para relembrar o belíssimo samba composto por Bola:

Acadêmicos do Tatuapé – 2014

“Eu amanheço nos braços da fé/Vim do clarão da lua, sou Tatuapé/Canto forte em oração/Meus inimigos não me alcançarão”

Em São Paulo, a homenagem ao mais popular dos santos veio pelas mãos da Tatuapé em 2014. A escola é uma das agremiações paulistas, junto com a Gaviões, que tem Jorge como seu padroeiro. A ligação com Jorge é tanta que a escola da zona leste sempre divulga seu tema do carnaval seguinte no dia da festa ao seu protetor. 
O enredo “Poder, fé e devoção. São Jorge Guerreiro” foi desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Xuxa e garantiu o sexto lugar para a agremiação. A boa posição foi alcançada com a força do samba e com a excelente harmonia da escola que conseguiu minimizar os problemas estéticos e de desenvolvimento no tema, que deixaram a desejar, mas não apaziguaram a bonita homenagem ao Guerreiro. Ficou, assim, marcado na memória dos paulistas pela potência e emoção do desfile. Dê o play para ouvir a obra composta por Márcio André, Márcio André Filho e Vaguinho:

Cova da Onça – 2015

“Salve São Jorge guerreiro/Meu protetor/Que conduz a minha vida/Me faz vencedor”


Diretamente de Uruguaiana, um samba muito bonito e pouco conhecido no imaginário momesco. A octacampeã Cova da Onça levou à Passarela do Samba o enredo “Ogum Iê! Da Capadócia ao Alto do Bronze, Cova da Onça Festeja Seu Padroeiro”. Embora com sotaque gaúcho, o samba continha grife carioca, conhecidíssima lá pelos lados da azul e branco de Noel; foi assinado por Evandro Bocão, André Diniz, Gláucio Guterres e o saudoso Leonel, sendo defendido ainda pelo insulano Ito Melodia. 
A escola do Alto do Bronze contou com alguns problemas técnicos no som do sambódromo e desfilaram por um bom tempo sem o áudio oficial do desfile. No entanto, adversidades nunca foram problemas ao Santo Guerreiro e as arquibancadas contemplaram o espetáculo com o teor emocional que o enredo pedia, levando o desfile e a agremiação apenas com a força das vozes do público presente. Ouça o samba completo no link abaixo:

Alegria da Zona Sul – 2016

“Ogum é Jorge, é religião/E a Alegria canta em sua fé/O cavaleiro forte e destemido/Conduz a Zona Sul ao infinito”

(Foto de Widger Frota)
Com os caminhos guardados por Exu, a Alegria da Zona Sul trouxe à Marquês de Sapucaí um belo samba para seu desfile da Série A em 2016, valente como pedia a homenagem ao orixá dos metais e da guerra, Ogum. O carnaval assinado por Marco Antônio Falleiros optou por narrar a história mitológica do divindade afro-brasileiro finalizando com homenagem ao São Jorge em seu último setor. 
Embora tenha passado por alguns problemas na sua apresentação, algo comum para as escolas que transitam na “meiuca” do grupo de acesso do carnaval, a vermelha e branco da zona sul não obteve maiores problemas para permanecer na Série A. Com os ritmistas da bateria Show de Ritmo da Alegria vestidos de Ogum, já se sabia, quando toca o adarrum, é batuque pra Ogum! Dê o play para conferir o samba composto por Pixulé, Thiago Meiners, Rafael Tubino, James Bernardes, Alex Bagé, André K, Gilson, José Mario, Júnior e Victor Alves:

Estácio de Sá – 2016

“Estou vestido com as armas de Jorge/Meus inimigos não vão me alcançar/Tu és bondade pelo mundo inteiro/Santo padroeiro igual não há”


Vestido com as armas de Jorge, o morro do São Carlos desceu pra louvar seu padroeiro em sua volta ao grupo especial no ano passado. Rogando seus milagres em devoção, a Estácio desfilou toda a sua fé durante quase 80 minutos. Na belíssima comissão de frente assinada por Márcio Moura, um São Jorge todo articulado levantou o público e acabou se tornando um dos pontos altos do desfile. Vale destacar também o show que deu a bateria Medalha de Ouro da Estácio, orquestrando, durante todo o cortejo, o inspirado samba da agremiação. 
Empunhando a lança do Santo Guerreiro, a vermelha e branco não prolongou sua estadia no Grupo Especial do carnaval carioca, mas fez um desfile à altura do homenageado. Por se tratar de um desenvolvimento estritamente católico, o desfile foi apoiado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, fazendo o sincretismo aparecer de forma tímida no enredo com um viés descritivo acerca da trajetória de vida do homenageado. Confira no vídeo a bela obra composta por Adilson Alves, André Felix, Edson Marinho, JB, Jorge Xavier, Salviano e interpretada por Wander Pires:
Alegoria louvando o Santo Guerreiro no desfile do Império Serrano de 2006 que falava de fé.
Brasileiro, carioca, sambista, Jorge da Capadócia e do Brasil. Apesar de ter origem na atual Turquia, São Jorge se tornou o mais brasileiro de todos os santos, movimentando todos os anos uma legião de fieis nas alvoradas, procissões e nos rituais dentro de muitos terreiros. Milhões de guerreiros diários que também matam seu dragão por dia e olham sempre pra cima, confiando na lança e na proteção do santo guerreiro. Salve Jorge. Salve Ogum. Salve o povo brasileiro. Amém pra quem e de amém, axé pra quem é de axé – e até mesmo para quem não tem religião.

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