#SérieBaluartes: Ilustres capítulos do Livro Imperial


Por Leonardo Antan.
Revisão: Felipe Tinoco.
Artes: Vítor Melo.
Alô, Serrinha! Ao som do jongo, da força feminina e dos grandes sambas-enredos de todos os tempos, começamos o último texto dessa primeira temporada da Série Baluartes. Depois de Portela, Salgueiro e Mangueira, fechamos o time das 4 grandes matriarcas do carnaval mergulhando no dossiê de uma das grandes escolas de sambas da nossa história. 
A Serrinha de enormes compositores, grandes damas do sambas, de grandes mestres e cantores! Sedentos de orgia e desvario… mergulhamos agora nesses Heróis da Liberdade em verde e branco. Abre esse livro, pois tu sabes tu ler!
Foi de uma dissidência que surgiu o glorioso Império Serrano. No lendário morro de Madureira, quem dava as cartas até então era a escola de samba Prazer da Serrinha. Após a agremiação, porém, trocar em cima do laço o samba dos compositores Silas de Oliveira e Mano Décio de Oliveira, reuniu-se um grupo de insatisfeitos com a Prazer. Assim, fundado em 23 de março e 1947, o Reizinho parecia destinado a ser grande. Foram nada menos que quatro títulos nos primeiros carnavais que disputou, de 1948 a 1951. Depois, acumulou mais cinco vitórias, tornando-se uma das maiores vencedoras da história do carnaval. Tudo isso surgiu no quintal de Tia Eulália, reunindo Sebastião Molequinho, Elói Antero Dias, Mano Décio da Viola, Silas de Oliveira, Aniceto Menezes, Mestre Fuleiro. Além, evidentemente, da própria Eulália do Nascimento!
Nascido no ano da abolição da escravatura, Elói Antero Dias, o Mano Elói, foi um dos mais importantes líderes comunitários da verde e branco. Surgiu no norte fluminense, em Resende, foi compositor, cantor, jongueiro, babalorixá, camelô e estivador. Chegando ao Rio, esteve na Mangueira em Niterói até finalmente se abrigar em Madureira. Foi membro da Companhia dos Homens Pretos, o lendário Sindicato dos Estivadores, conhecido como Resistência. Foi lá em que conheceu outros fundadores da escola.
Sebastião Molequinho era compositor e sambista. Irmão de Tia Eulália, foi na casa dela que viu o Menino de 47 ser fundado. Anos depois, Molequinho comandou a agremiação em 1959 e, mais tarde, em 1969 e 1970. Nos anos 80, participou de shows com a Velha Guarda ao lado de ícones como Tio Hélio, Mestre Fuleiro e Nilton Campolino. Em 2007, ganhou o Estandarte de Ouro de Personalidade. Foi presidente de honra e um dos últimos fundadores a partir desse plano, em 2014.
Aniceto Menezes foi mais um dos fundadores da alviverde que dividia sua rotina entre o samba e o Cais do Porto, por onde era estivador e o líder do Sindicato dos Arrumadores. Foi com apenas 16 anos que começou a improvisar seus versos primeiros e assim nasceu um dos grandes mestres do partido-alto, sendo considerado um partideiro imbatível e mentalmente ágil como pede o estilo. Em torno de 1935, ingressou na Escola de Samba Prazer da Serrinha. Porém, sua imersão na vida de sambista iniciou muito antes, em vários outros blocos e escolas da região. Com longa carreira no carnaval, foi somente em 1977, aos 65 anos, que Aniceto gravou seu primeiro LP, com o título de “Quem samba fica”. Ainda em 1977, gravou com Nilton Campolino, outro grande baluarte do Império Serrano, o LP “O partido- alto de Aniceto e Campolino”. 
Primo de Dona Ivone Lara, Mestre Fuleiro foi um dos fundadores do Império Serrano e se destacou como diretor de harmonia da escola de samba do Morro da Serrinha por mais de quatro décadas. Assinou diversos sambas com a Dama do Samba e Tio Hélio e foi um dos grandes jongueiros da Serrinha, exímio percussionista e conhecedor dos saberes das gramáticas dos tambores. 
Falemos de um dos outros fundadores do Reizinho, considerado quase que unanimemente o maior compositor de sambas de enredos de todos os tempos. No tretacampeonato que marcou a estreia com o pé direito da verde e branco, Silas de Oliveira foi autor de todos os sambas apresentados pela agremiação. Ao longo de sua história, venceu mais de 16 vezes a disputa de samba-enredo, tendo assinado obras-primas como “O Caçador de Esmeralda” (1956), “Aquarela Brasileira” (1964), “Os Cinco Bailes da História do Rio” (1965), “Glórias e Graças da Bahia” (1966), “Pernambuco, Leão do Norte” (1968) e “Heróis da Liberdade” (1969).
O que poucos sabem sobre a trajetória desse grande nome da nossa música é que ele seguiu carreira de sambista a contragosto do pai, que era evangélico. Querendo que o filho deixasse o caminho do samba, o  pai, dono do Colégio Assumpção, arrumou uma vaga de professor para o filho tão logo ele concluiu o equivalente ao Ensino Médio para dar aulas de português. Ainda bem que não adiantou muito. Falecido precocemente no ano de 1972, em meio a uma de samba, Silas amargava várias derrotas nas disputas de samba em meio aos processos de modificações nos sambas-enredo, com andamentos mais acelerados e obras mais curtas, o que acabou por afastá-lo das disputas.
Outro grande fundador da escola e parceiro maior de Silas foi Mano Décio da Viola. Nascido em Santa Amaro, na Bahia, passou ainda por Juiz de Fora até chegar ao Rio. Por aqui, teve seu primeiro contato com o samba no Morro de Mangueira até finalmente chegar em Madureira. Foi lá que viu surgir o bloco Vai Como Pode (que daria origem à Portela). Já nos anos 30, Almirante registra “Vem, meu amor”, canção feita sobre a melodia de uma valsa de Richardo Strauss. Foi então que começou a ganhar dinheiro com uma prática muito comum da época: vendendo suas composições para outros “parceiros”. É de sua autoria o primeiro samba a fazer sucesso e se eternizar no imaginário carnavalesco, o inesquecível “Exaltação a Tiradentes”, que chegou a ser  gravado posteriormente por Elis Regina, Chico Buarque e Beth Carvalho. Posteriormente, fez mais de uma dezena de sambas que o Império Serrano cantou na avenida, sempre com a categoria de um compositor que carrega a viola no nome.
Nascido como Laudemir Casemiro, mas famoso por outro nome, Beto Sem Braço foi mais um nome na lista de grandes poetas imperianos. A característica física que lhe batizou surgiu de um acidente na infância, quando o  sambista caiu de um cavalo e teve que amputar o braço direito. Antes de ser uma das jóias da coroa imperial, Beto Sem Braço pertenceu aos quadros da Unidos de Vila Isabel, mesma agremiação em que estava seu mais constante parceiro, Aluísio Machado (já já falaremos dele!), mas não chegou a vencer uma disputa de samba-enredo sequer na azul e branca do bairro de Noel. Em 1981, Beto fez pouso definitivo em Madureira para se consagrar como o grande vencedor de um dos mais belos sambas de todos os tempos: “Bumbum Paticumbum Prugurundum”, que deu o último título do carnaval à escola de Madureira. Aos poucos, foi colocando em suas letras a ginga que fazia parte de seu dia a dia: o compositor era um grande frequentador dos pagodes nas favelas, convivendo diariamente com a “malandragem”. É de sua autoria ainda os sambas de 1983, 1985 e 1987, além de 1992, sua última vitória.  
Grande parceiro de Beto, também um dos maiores compositores e baluartes da história do carnaval como um todo: Aluísio Machado. Foi só com dez anos que conheceu o Menino de 47. Quatro anos depois esboçou um bilhete amoroso que daria origem à sua primeira composição. Na alviverde da Serrinha, foi passista, ritmista e chegou até mesmo à cobiçada função de mestre-sala. Como compositor, são nada menos que quatorze vitórias no Império – seis delas vencedoras do Estandarte de Ouro de melhor samba. Entre as obras compostas por Aluísio, ao lado de parceiros como Beto Sem Braço, está “Bumbum Paticumbum Prugurundum”, de 1982, além de outros clássicos como 83, 86, 96 e 2006.
Quem assinou pelo menos cinco sambas com Aluísio e o próximo compositor que escreveu seu nome nessa linhagem imponente é o enorme Arlindo Cruz. Arlindo tem uma produção de músicas tanto extensa quanto genial. Cria genuína deste Seu Lugar, foi o ponto fora da curva de uma família de portelenses, tanto que começou sua carreira tocando para Candeia. Cria de uma geração de nomes fundamentais do Cacique de Ramos, explodiu nos anos 80 apadrinhado por Beth Carvalho. Após participar do Fundo de Quintal com seu inconfundível banjo, fez carreira solo como compositor e cantor. Foi na mesma década de 80 que começou a participar da Ala de Compositores. Depois de sua primeira vitória na disputa em 1989, no enredo em homenagem a Jorge Amado, começou uma sequência de grandes obras musicais para sua escola do coração. 
Para tantas obras imortais de umas maiores discografias da nossa folia, o Império reuniu um time de intérpretes grandiosos. Um dos mais marcantes deles é Roberto Ribeiro, um dos maiores divulgadores e apaixonados pela Coroa Imperial. Bom de bola e típico carioca, foi jogador de futebol antes de se enveredar pela música. A carreira como cantor começou a deslanchar a partir de 1972 com gravações de três compactos em parceria com Elza Soares pela Odeon. Foi tanto sucesso que logo gerou o LP “Elza Soares e Roberto Ribeiro – Sangue, Suor e Raça”. Já no ano seguinte veio o primeiro álbum solo. Nesse mesmo período, ele começou sua aproximação com o Reizinho, defendendo um samba pela escola na primeira vez na avenida em 1971. Voltando definitivamente em 1974, foi ainda compositor dos sambas  “Brasil, Berço dos Imigrantes”, de 1977 (feito em parceria com o cunhado Jorge Lucas), e em “Municipal Maravilhoso, 70 Anos de Glórias”, de 1979 (parceria com Jorge Lucas e Edson Passos). Um dos seus clássicos do seu repertório foi Estrela de Madureira, samba que perdeu a disputa para o hino oficial do Reizinho em 1975. Seguiu como intérprete oficial da escola até 1981.
Antes de consolidar a voz do menino rei Roberto Ribeiro, o Menino de 47 foi responsável por trazer várias figuras famosas da época para cantarem suas obras na Avenida. Frequentaram essa lista cantores da Era do Rádio que faziam grande sucesso popular. Na década de 1960, como exemplo, foi o caso de Jorge Goulart que desempenhou por quatro anos a função. Já em 1972, a grande Rainha do Rádio e eterna rival de Emilinha: foi Marlene quem segurou o grande sucesso em homenagem a Carmen Miranda. 
Na década de 1990, o caso foi de um nome já conhecido do samba brasileira a ser alçado como intérprete oficial da alviverde: Jorginho do Império, que já gravava discos dedicados ao samba desde os anos 70.  Filho de Mano Décio da Viola, um dos fundadores do Império Serrano, começou sua carreira ao lado de Martinho da Vila, com quem assinou várias parcerias. Após ser diretor de carnaval da escola, ele assumiu o microfone oficial em 1996 ao som do clássico “Verás que um filho teu não foge a luta”.
Chegando aos anos 2000, o Reizinho encontrou mais uma voz que facilmente se fixou no imaginário popular associada à agremiação. Nêgo já tinha longa carreira no samba quando chegou a Madureira em 2004. Irmão mais novo de Neguinho da Beija-Flor, começou na Unidos da Tijuca na década de 1980, com uma passagem marcante na Grande Rio entre 1993 e 1999. Passou ainda pelo Salgueiro e retornou à própria Tijuca antes de chegar na Serrinha. Na escola, entoou brilhantemente as reedições dos clássicos de 1964 e 1976, com seu alcance vocal potente que já lhe rendeu 4 Estandartes de Ouro na categoria. Para o próximo ano, a verde e branco recontratou o cantor. 
Fechando a lista de grandes vozes da Serrinha e já iniciando o tópico a seguir de grandes mulheres da história da escola, não poderíamos esquecer a grande Jovelina Pérola Negra. Nascida em Botafogo, cresceu na Baixada Fluminense em meios às dificuldades de ser negra retinta em uma sociedade machista e racista. Até realizar o sonho de ser cantora, trabalhou como empregada doméstica e vendedora de rua. Começou a sair na Coroa Imperial na Ala das Baianas da alviverde, por onde permaneceu por anos até se tornar Pastora. Logo, sua voz rouca, potente e inconfundível chamou a atenção, sendo considerada uma herdeira da gigantesca Clementina de Jesus. Assim como a eterna Quelé, foi tardiamente que conseguiu chegar ao mercado fonográfico. Sua estreia aconteceu em 1985, quando já tinha 40 anos, com sua participação em três faixas da coletânea Raça Brasileira. No ano seguinte, gravou seu primeiro disco solo com sambas de sua autoria e de compositores como Nei Lopes e Monarco. Ao todo gravou seis álbuns, como “Sorriso Aberto”, em 1988, “Sangue Bom”, em 1991 e “Vou da Fé”, em 1993, quando conquistou um disco de platina.
Muito se falou já sobre a importância de grandes figuras femininas nos outros textos da Séries Baluartes, mas no caso do Império Serrano essa grande galeria de damas sambistas é de fazer inveja. A primeira grande matriarca da Serrinha foi Vovó Maria Joana. Nascida em Valença, mas estabelecida em Madureira, sua casa foi um importante ponto social do bairro da Zona Norte. Foi mãe de santo respeitada. Estabeleceu os preceitos religiosos para o estabelecimento do jongo e da escola de samba.
Foi no já comentado quintal de Tia Eulália que foi fundado o Império Serrano. Desde cedo a cabrocha se ligou com carnaval por meio de seu pai, Francisco Zacarias de Oliveira, precursor dos blocos de carnaval na Serrinha. A casa da família vivia repleta de músicos que organizavam pastorais, gafieiras, serestas e obviamente muitas rodas de samba. Mano Elói dizia que o espírito festivo daqueles nove filhos do senhor Zacarias Oliveira já era suficiente para a criação de uma escola de samba. Multitarefa, essa matriarca seguiu atuando na agremiação até a sua partida, aos 96 anos. 
Dama, Dona, Diva. Umas das figuras mais representativas da história do Império Serrano e a rainha absoluta do nosso samba: Dona Ivone Lara é o maior exemplo da força feminina ancestral na Coroa Imperial. Desde cedo, a jovem sambista já mostrava o talento para composição e tinha estreitos laços com carnaval. Casou-se com Oscar, filho do presidente da Prazer da Serrinha, Alfredo Costa. À época, compôs seus primeiros sambas, mas ela não assinava as próprias obras devido ao intenso e excludente machismo do período. Sempre se dividindo entre as rodas de sambas e o trabalho como enfermeira, foi em 1965 que entrou para a história ao assinar, ao lado de Silas de Oliveira e Bacalhau, o clássico “Os Cinco Bailes da História do Rio”. Logo foi consagrada madrinha da Ala dos Compositores da verde e branco, ainda que fosse como baiana que gostava de desfilar. Após ficar por anos no chão, puxando as senhoras, foi nos anos 80 que passou a se apresentar com luxuosas fantasias de baiana, confeccionadas pelo famoso estilista Evandro de Castro Lima. Em 1983, ano em que a escola tentava o bicampeonato com “Mãe Baiana Mãe”, Dona Ivone surgiu em dourado no abre-alas da escola, que representava a Igreja do Bonfim. Quando completou 90 anos, ela foi o enredo do samba da sua escola de coração, em uma bela homenagem que valia o título de campeã do Grupo de Acesso daquele ano. Fora da folia, Ivone tem uma vasta discografia e firmou seu nome na história musical. Fez parte do show “Opinião” e teve obras gravadas por Clara Nunes, Maria Bethânia, Roberto Ribeiro, Beth Carvalho e Caetano Veloso. Seu grande parceiro foi Délcio Carvalho, com quem fez clássicos como “Sonho Meu” e “Acreditar”, duas das mais lindas canções de nossa música.
Rachel Valença é figura polivalente da história da alviverde da Serrinha. Começou como componente de ala, comandou a ala das crianças, fez parte da diretoria, foi vice-presidente da escola, deu duro no barracão e escreveu ainda uma das biografias pioneiras de uma escola de samba, o livro “Serra, serrinha, serrano: O império do samba”, lançado em 1981, ao lado marido Suetônio, também imperiano Na década de 60, a bamba morava em Brasília, mas já era envolvida no carnaval, até que voltou ao Rio e se apaixonou pela escola e por seus grandes sambas. Desfila desde 1972 e é dona de acervo raro e inesgotável sobre a história do Império. Rachel é forte defensora do nosso carnaval, já tendo trabalhado no Museu do Samba e no Museu da Imagem e do Som. 
Neide Dominiciana, a Cigana Guerreira, era filha de Roseno Oliveira, mais um da turma dos estivadores, amigão de Tião Fuleiro e outros baluartes da escola. Imperiana de fé, também passeou pelas mais diferentes ocupações. Chegou a sair na comissão de frente de 1976, foi destaque, baiana, participou do departamento feminino, até vice-presidente. Só não foi porta-bandeira, mas poderia ter sido. No desfile campeão de 1982, “Bum Bum Praticumbum Prugurundum”, Neide representou Iemanjá, em uma referência ao desfile campeão do Salgueiro de 1969, “Bahia de Todos os Deuses”, no quadro referente aos antigos carnavais na Candelária. Em 2004, na reedição do clássico Aquarela Brasileira, o intérprete Nêgo eternizou uma homenagem à baluarte no seu grito de guerreira.
Na lista de grandes imperianas estão ainda figuras como Dona Líbia, Tia Marta, Wannyr Parreira, Tia Maria do Jongo, Dona Alice Terra, Tia Neia, entre outras figuras marcantes.
Ainda falando sobre o poder feminino da Serrinha, mas já entrando no visual, entre as muitas inovações que são atribuídas à verde e branco está a primazia entre os grandes Destaques de Luxo. Por mais que o título possa ser contestado em um mergulho mais atento à história do assunto, Olegária dos Anjos foi uma figura fundamental na trajetória do Império. Esposa do baluarte imperiano Calixto do Prato, começou a desfilar com fantasias mais simples, até aos poucos ir trabalhando o luxo e a opulência que o cargo de personagem central do desfile pedia. 
Após a lendária Revolução Salgueirense que estabeleceu novos parâmetros narrativos e estéticos para os desfiles que se tornaram verdadeiros espetáculos da cultura de massa, o Império Serrano teve dificuldades de se firmar como campeã contando de forma limitada com suas grandes obras musicais. Mas tudo mudou com a chegada de pernambucano meio doido que escreveu uma carta cheias de argumentos para se tornar carnavalesco da escola. Em 1971, Fernando Pinto assinou seu primeiro carnaval por lá, mas foi apenas no ano seguinte que começou a colocar seu nome com um dos grandes gênios da festa. Ao homenagear a cantora Carmen Miranda, o artista desenvolveu o primeiro enredo de homenagem que não era uma figura histórica ou folclórica, mas sim uma celebridade popular da época. Transformando a passarela em um grande teatro de revista, o tropicalista deu um título à Serrinha, colocando a  alviverde na rota das transformações que as escolas de sambas promoviam nos desfiles para crescer sua popularidade. Atuando de 1971 a 1976, voltando ainda em 1978, o cenógrafo e figurinista Fernando Pinto foi o artista que mais assinou desfiles no Menino de 47: ao todo, foram  sete carnavais com enredos que abordavam a cultura popular e de massa e até delírios oníricos sobre nossa história. Confira mais sobre esse importante casamento da nossa folia em outro texto que pode ser lido aqui!
Já na década de 1970, o Império foi rebaixado e começou a viver tempos turbulentos. Com a chegada dos anos 80, a verde e branco resolveu apostar em novos talentos para se firmar na folia. Para isso, contou com a ajuda do eterno salgueirense Fernando Pamplona e de seus pupilos. Sem aceitar o convite para assinar um desfile em uma outra escola que não fosse a Academia, o professor da Escola de Belas Artes sugeriu enredos e trouxes seus alunos para cuidar dos carnavais da Serrinha. A experiência começou muito bem sucedida em 1982, com o histórico Bum Bum Paticumbum Prugurundum, desenvolvido por Rosa Magalhães e Lícia Lacerda no enredo originalmente criado por Pamplona. No ano seguinte, a estratégia se repetiu no tema Mãe Baiana Mãe, dessa vez concebido por Renato Lage. O futuro mago High-Tech permaneceu até 1986 na Serrinha, já mostrando sua grande capacidade de criação artística.
Dez anos depois da rival Portela criar o grupo musical conhecido como Velha Guarda, o Império Serrano também teve seu grupo de baluartes para registrar grandes clássicos do repertório da escola. Foi assim que, em 1980, o cantor Jorginho do Império convidou o conjunto para participar de um show seu. O sucesso foi tão grande que o grupo ganhou um espetáculo solo que ficou meses em cartaz, dando origem ao LP “Mano Décio apresenta a Velha Guarda do Império Serrano”, de 1980. Em sua formação inicial, a Velha Guarda foi formada por Nílton Campolino, Mano Décio da Viola, Carlinhos Vovô, Mestre Fuleiro, Sebastião Molequinho, Tio Hélio e Dejanira. O grupo seguiu fazendo shows, mas, com o passar do tempo e a morte de alguns integrantes, acabou dissolvido.
Anos depois, já no início da década de 2000, o grupo musical foi reativado com uma nova formação, composta por Wilson das Neves, Ivan Milanez, Fabricio, Cizinho (ex-mestre-sala), Tuninho Fuleiro, Zé Luiz, Capoeira da Cuíca, Silvio, Lindomar, Tia Balbina e Tia Nina. O grupo fez diversas gravações e shows do cantor Dudu Nobre, o que gerou o primeiro disco gravada por essa geração,  lançado em 2006, batizado de “Um Show de Velha Guarda”. Mais recentemente, em 2017, em comemoração aos 70 anos do Menino de 47, foi gravado mais um disco do conjunto, agora com nova formação, que reuniu Ivan Milanez, Tia Nina, Capoeira, Rachel Valença, Sílvio Manoel, Lindomar Fraga, Cizinho, Luís Carlos do Cavaco, Nilson Rangel, Reinaldo Muzza e Tia Vilma. Nas faixas, o CD tem a participação especial de grandes compositores e imperianos, como Myrian Pérsia, Arlindo Cruz, Jorginho do Império, Wilson das Neves, Jorge Lucas, Aluízio Machado, Alex Ribeiro e Zé Luiz do Império.
Referências bibliográficas: A série “Poetas Imperianos” do Carnaval Histórico, Jornal Extra, escritas por Leonardo Bruno e João Gustavo Melo. Os livros “O prazer da serrinha: histórias do Império Serrano”, de Bernardo Araújo, e “Serra, Serrinha, Serrano: o império do samba”, de Rachel e Suetônio Valença. 

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