#SérieBaluartes: os acadêmicos do Torrão Amado

Por Leonardo Antan e Vitor Melo
Revisão: Felipe Tinoco
Artes: Vitor Melo
Depois de um passeio em Oswaldo Cruz e Madureira, a Série Baluarte segue resgatando a história de grandes artistas de todas as áreas do carnaval. Nossa parada hoje é no lendário Morro do Salgueiro, nas cores da vermelha e branca, a Academia do Samba. 
Fundada em 1953, a agremiação surgiu da fusão de três outras escolas do morro tijucano: Depois eu Digo, Unidos do Salgueiro e Azul e Branco. Se separadas as três nunca conseguiram uma posição expressiva, dando origem aos Acadêmicos já estrearam conquistando um terceiro lugar, mostrando uma história predestinada a ser grande. Alguns anos depois, seria líder de uma revolução que mudou pra sempre os rumo das escolas de samba. Para saber mais sobre a famosa Revolução Salgueirense, clique aqui.
Dos artistas visuais aos passistas, passando por grandes compositores e mestres de bateria, montamos um luminosa constelação de salgueirenses que marcaram a trajetória da agremiação e que marcaram sua trajetória por meio dela. Para cada segmento, dentre liderança, força feminina e os poetas, uma estrela foi escolhida como guia para aprofundar sua passagem e, assim, relembrarmos outros grandes nomes que fizeram história na festa. Venha salgueirar com a gente! 

Para transformar o Salgueiro em uma agremiação competitiva, surgiu um dos grandes nomes por trás da modernização dos desfiles das escolas de sambas nos anos finais da década de 1950. Mesmo não morando no morro do Salgueiro ou não sendo uma força política do bairro, Nelson de Andrade assumiu a presidência após ajudar a agremiação em seu livro de ouro. O simples comerciante de peixes da região logo mostrou habilidades administrativas. Com seu porte alto e o jeito brigão, foi escolhido para defender a escola em meio às outras grandes da época, na Associação das Escolas de Samba.  
Quando o visual era ainda secundário, Nelson percebeu que a inovação poderia ser um elemento importante para colocar a alvirrubra na disputa por suplantar a barreira do terceiro lugar. Foi assim que criou o lema definitivo da agremiação: “nem melhor, nem pior, apenas uma escola diferente”. Ele ainda apostou em trazer pessoas de fora da escola para conceber a parte artística-estética da escola. Em 1959, conheceu um excêntrico casal que colecionava peças de artesanato e arte popular; ninguém menos que Dirceu e Marie Louise Nery – quem recentemente faleceu vítima da COVID-19. A suíça e o pernambucano desenvolveram, então, o enredo sobre o artista Jean Baptiste Debret, famoso por integrar a Missão Artística Francesa. Nelson ficou responsável pelo desenvolvimento do enredo, enquanto o casal de folcloristas desenvolveu figurinos nada convencionais para época e aboliram as alegorias em carreata, apostando só em adereços de mão. Saiba mais sobre esse desfile clicando aqui.

Nelson de Andrade com seu inconfundível bigode. (Foto Portela Web)

A inovação rendeu um vice-campeonato graças a nota de um certo jurado professor da Belas Artes e cenógrafo do Teatro Municipal. E assim surgiu mais um artista acadêmico comandando o carnaval da Academia: Fernando Pamplona. Como o mestre afirmou em sua autobiografia, Nelson era o primeiro grande enredista do Salgueiro, responsável por conduzir brilhantemente o tema desenvolvido por meio de muita pesquisa. Em entrevista para o Jornal do Brasil publicada em 21/12/1961, Nelson fez esta declaração: “como responsável pelo enredo, não deixo ninguém sair com fantasia em desacordo com o tema. Faço questão de pesquisar o máximo que posso. Em primeiro lugar, o tema deve ser inédito, depois, estudo a ponto de dominá-lo por inteiro”. 
Se na maioria das vezes os louros da revolução salgueirense caem no colo de Pamplona, a mudança estética e temática que promoveu a Academia do Samba não teria acontecido sem a ousadia e a vanguarda de Nelson na busca do primeiro título da escola. Pena que ele tenha deixado a agremiação antes de conseguir o feito. Em 1961, após um desentendimento com alguns membros, o dirigente rumou para a Portela, na qual seguiu sendo um profissional interessado em inovar. Em seis anos na azul e branco, foi campeão três vezes. Ele voltaria a sua escola de coração no final dos anos 60.
Com a saída de Nelson, outro grande líder salgueirense surgiu: Osmar Valença, dirigente da agremiação por mais de duas décadas. Aproximou-se da escola quando sua esposa, Isabel Valença, começou a desfilar como destaque e, então,  contribuiu com o livro de ouro. Ao lado de Natal, foi da primeira geração de bicheiros a participar da cúpula das escolas de samba. Sob sua direção, o Salgueiro ganhou seis títulos. Foi uma figura controversa e polêmica, mas sem dúvidas nenhuma muito importante na trajetória da alvirrubra.

O primeiro grande artista da Academia foi Hildebrando Moura, atuando como uma espécie de “carnavalesco”, sem receber essa nomenclatura à época. Funcionário da Casa da Moeda, assinou enredos como “Romaria à Bahia”, “Brasil, fonte das artes” e “Navio negreiro”. Entre 1954 e 1958, sua atuação seria sintomática no forte período de transformações sob o qual as escolas de samba já viviam. O seu nome aparece apenas registrado, sem que exista muitos materiais para se tomar conhecimento de seu legado na folia e na própria agremiação. 
O carnaval de 1959, embora não tenha entrado para os anais da Academia do Samba, foi essencial para introduzirmos em nossa conversa a próxima indispensável figura. Como sugere o parágrafo sobre “Os Líderes”, Nelson de Andrade já vislumbrava caminhos inovadores a serem desbravados.

Fernando Pamplona e o projeto de decoração de rua para o carnaval de 1973 (Foto O Globo)

Com a devida menção aos primeiros sopros artísticos do Torrão Amado, é missão impossível falar da batuta criativa salgueirense sem lembrar da voz de trovão. Fernando Pamplona, professor da Escola de Belas Arte (EBA), cenógrafo e, sobretudo, jurado que se encantou pelo Debret salgueirense, foi convidado ainda em 1959 por Nelson de Andrade para comandar o carnaval de 1960. Não houve resistência por parte de Fernando em aceitar o convite, tomando ofício a profissão que marcaria seu nome – e do Salgueiro – para sempre na história da festa. Influenciadas pelas amarras ditatoriais e pelos ventos ufanistas que circulavam por nosso país, as escolas nas décadas de 60 e 70 tinham enredo predominantemente nacionalistas, pautados por uma história, digamos, oficial. Logo em seu primeiro desfile, coube ao Pamplona e à sua equipe proporem um enredo disruptivo a essa hegemonia temática: Quilombo dos Palmares, uma história que a História não contava. 
O trabalho realizado visualmente estabeleceu novos paradigmas artísticos, inserindo na discussão duas das principais qualidade do artista: a capacidade de construir incríveis equipes que sempre materializaram perfeitamente suas ideias e a de revelar grandes nomes para a festa como Rosa Magalhães, Lícia Lacerda e outros que aparecerão por aqui. Fernando assinou os desfiles campeões de 1960, “Quilombo dos Palmares”, 1965, “História do carnaval carioca”, 1969, “Bahia de todos os deuses” e 1971, “Festa para um rei negro”. Além desses, protagonizou outros muitos desfiles pela escola, tornando-se um dos maiores da história do carnaval e, sem dúvidas, o maior artista da História do Salgueiro. De todos os títulos conquistados pelo homem que só tinha medo da Matinta Pereira, sua “inseparável dupla” estava presente em todos eles: Arlindo Rodrigues.
Ao falar de revolução salgueirense, pela magnitude da figura de Fernando Pamplona, relegam muitas vezes a importância de Arlindo Rodrigues, colocando-o inclusive à margem das figuras fundamentais à festa. É uma árdua missão, entretanto, traçar esse panorama de renovação da linguagem e do discurso das escolas de samba sem falar do gênio barroco do carnaval (e há um texto todinho dele aqui). Braço direito de Pamplona, conheceram-se no Theatro Municipal e construíram uma afinidade artística invejável, com processos criativos complementares. A dupla que parecia inseparável desfez-se após o carnaval de 1961 quando Fernando foi morar na Alemanha por alguns anos e abriu caminho para Arlindo alcançar o seu ápice em 1963 com “Xica da Silva”. Além de um desfile consagrador, aliando todas suas virtudes e inserindo novos elementos no cortejo carnavalesco, tendências e ideias que reinam até os dias de hoje, o carnavalesco deu ao Salgueiro seu primeiro título solo, elevando a escola a outro patamar. “O Descobrimento do Brasil (1962)”, “Chico-Rei (1964)” e “Skindô, skindô” (1984) foram três outros desfiles assinados individualmente pelo artista, além de diversos outros com Pamplona e sua equipe.
Se falamos de Arlindo como uma pessoa que por diversas vezes cai no esquecimento involuntário do senso comum, chegamos a uma outra figura que traçou caminhos contrários, também discípulo direto de Pamplona e um sucessor instintivo: Joãosinho Trinta. Maranhense, baixinho, arretado e genial, Joãosinho é daquelas figuras que não aparecem sempre, mas deixam um legado imensurável por onde passam. Diante de uma crise tremenda instaurada após o fiasco do carnaval de 1972, quando Fernando e Arlindo assinaram “Nossa madrinha, Mangueira querida”, restou a João e Maria Augusta, também discípula de Pamplona, dominarem no peito aquela bola quadrada e comandarem a situação. Os artistas voltaram às origens salgueirense em 1973, com o enredo “Eneida, amor e fantasia”, e conseguiram um comemorado 3º lugar. Foi no ano que viria, porém, que Trinta começou a demonstrar todo seu potencial, inserindo mais uma inovação a qual o Salgueiro aderiria e seria pioneiro: os enredos delirantes, histórias não-lineares, seguindo o poder criativo do carnavalesco e a sua mais pura imaginação. Além dessa nova vertente temática, João inseriu no mundo do carnaval diversos fatores que viriam para repaginar para sempre o que a gente entende como desfile escola de samba. A verticalização das alegorias, a opulência e o luxo são heranças ainda muito fortes desse artista lendário. Voltando ao Salgueiro, tanto em 1974 (“O Rei da França na ilha da assombração”), quando assinou sozinho, como em 1975 (“O segredo das minas do Rei Salomão”), que esteve em parceria de Augusta, a vermelho e branco faturou o lugar mais alto do pódio, conquistando o primeiro e único bicampeonato de sua história até hoje.

Lage é o recordista em carnavais assinados na Academia.

Trazido por Pamplona – olha ele aí de novo – em 1977 para desenhar as alegorias do enredo “Do Cauim ao Efó, com moça branca, branquinha”, Renato Lage até então nunca sonhava em fazer carnaval. O assistente e chefe de alegorias permaneceu até 1978 – último carnaval no qual Pamplona assinou – e foi para Unidos da Tijuca logo em 1979. Voltou à Academia em 1987 para assinar com Lilian Rabello o desfile “E por que não?” e teve passagens no Império Serrano e Caprichosos, antes de se consagrar em um vitorioso casamento de 13 carnavais com a Mocidade Independente. O período só seria ultrapassado pelo tempo em que permaneceu no comando artístico do Acadêmicos do Salgueiro em parceria com sua esposa Márcia Lage, de 2003 a 2017, com exceção de 2009 (“Tambor”) e 2010 (“Histórias sem fim”), quando assinou sozinho. A segunda passagem pela vermelho e branco tijucana foi extremamente frutífera, apesar do único campeonato em 2009. Lage elevou o patamar da agremiação com belíssimas apresentações, deixando a escola no hall das sempre postulantes ao título, estando presente em todos os sábados das campeãs de 2008 até 2017, seu último ano. Com uma assinatura artística moderna e identificado com a origem e a identidade salgueirenses, o artista permaneceu na escola por longos 15 anos e não poderia definitivamente ficar de fora dessa lista.
Falar dos artistas da Academia e não citar o Departamento Cultural do Salgueiro seria uma missão extremamente complicada. Esse grupo tem grande importância na amarração das ideias e construções das sinopses dos enredos levados pelo Salgueiro desde 2002. Primeiramente encabeçado por Eduardo Pinto, filho da querida baluarte Iracema Pinto, e João Gustavo Melo, o cearense que se apaixonou pela Academia ainda criança e se tornou jornalista e doutorando em Artes pela Uerj. Os diretores culturais do Salgueiro são figuras essenciais do sistema pensante por trás dos carnavalescos nessa construção colaborativa de um enredo. João se tornou um dos grandes enredistas da festa conduzindo o desenvolvimento de temas como “A Ópera dos Malandros”, que teve sua preciosa interferência e faturou o Estandarte de Ouro. (Nós produzimos uma  entrevista bacana com o João Gustavo Melo na #SérieEnredo sobre a importância da atuação de um departamento cultural por trás da construção das histórias da avenida! Você pode ler aqui.)

Imponente, majestosa e invejada. Foi em 1963 que o Salgueiro lançou a pedra-fundamental da linguagem dos desfiles das escolas de samba atual, com o enredo sobre Xica da Silva. A grande ópera popular proposta por Arlindo Rodrigues tinha uma protagonista: Isabel Valença. A então esposa do presidente Osmar Valença já havia desfilado com destaque  interpretando Dona Maria, Rainha de Portugal, no enredo de 62 sobre o Descobrimento do Brasil. Mas foi ao incorporar a escrava que se tornou nobre nas terras de Diamantina que Isabel fez história e virou uma verdadeira celebridade carioca da década de 1960.
Com o luxo do figurino idealizado por Arlindo e realizado pelo costureiro Carlos Gil, Isabel entrou na Avenida Presidente Vargas com uma fantasia que custava mais que um apartamento popular na época. O enorme figurino inspirado na moda do século XVIII pensava mais de 25 quilos, cauda de 3 metros, uma infinidade de paetês, cristais, pérolas e pedras semipreciosas, além da imponente peruca de fio de nylon francês medindo cinquenta e cinco centímetros. O luxo da fantasia e atenção que Isabel recebeu, assumindo protagonismo tanto da narrativa quanto estético, ao buscar se diferenciar dos outros desfilantes com seu exuberante figurino. Foi assim que Isabel começou a estabelecer o que entendemos hoje como “destaque”.

Isabel Valença deslumbrante ao incorporar Xica da Silva. (Revista Manchete)

Ao incorporar Xica da Silva, Isabel Valença seria não só a própria entidade da rainha do Tijuco, manifestada através de corpo e fantasia, mas também a primeira grande “imagem” gerada por um desfile de escola de samba. A repercussão de Isabel ao assumir o papel da protagonista do desfile seria enorme, fazendo-a se confundir com a personagem. A partir daquele ano, Isabel se tornaria uma espécie de celebridade, estampou capas de jornais e revistas não só no Brasil, mas no mundo, como a norte-americana Times, concedendo entrevistas para importantes veículos de comunicação, sempre referida como a “Xica da Silva”. No ano seguinte, a destaque fez história a ser a primeira negra a vencer o concurso de fantasias do Teatro Municipal, um episódio que marcou um trânsito entre a festa erudita e os desfiles populares de maneira definitiva. Sua atuação seguiu brilhante no Salgueiro nos anos seguindo, vivendo outros personagens marcantes até o fim da sua vida. Só como Xica da Silva ela voltou a sair em 1965, 1984 e 1989. Em 1974, outro figurino histórico, a longa cauda da Rainha de Médicis concebida por Joãosinho Trinta. 
Quem brilhou ao lado de Isabel como protagonista do enredo de 1964 como Chico Rei, foi o grande baluarte Neca da Baiana. Um dos fundadores do Salgueiro, assumindo a função de Membro do Conselho Fiscal na ata de fundação da escola e que foi vencedor do concurso Cidadão Samba em 1976.

Júlio Machado, o Xangô do Salgueiro, no desfile da escola tijucana em 1995 (Foto Wigder Frota)

Numa escola de destinados a brilhar, outro grande destaque foi o Xangô do Salgueiro. Professor de História e sociologia, Júlio Expedito Machado Coelho começou a desfilar na alvirrubra em 1962, mas foi apenas sete anos depois que ganhou destaque ao incorporar orixá da justiça no enredo sobre a Bahia, em 1969. A partir da fantasia veio o apelido que acompanhou por mais trinta e oito anos, suas fantasias sempre traziam elementos a divindade a partir de então. Seu último desfile foi em 2007. Outra grande baluarte no quesito luxo e esplendor foi Iracema Pinto, que além de brilhar no alto dos carros alegóricos foi diretora do segmento por décadas na vermelho e branco, falecida recentemente a caminho do desfile da escola de 2019, deixou como legado seu filho Eduardo Pinto, desde o início dos anos 2000 atuando diretor cultural da agremiação. 

Outra linhagem importante nos desfiles da Academia foram seus grandes dançarinos. A precursora dessa arte foi a Paula da Silva Campos, mais conhecida como a Paula do Salgueiro, uma espécie de celebridade do universos das escolas de sambas na década de 1960 e intimamente ligada à identidade da vermelho e branco, desfilando na agremiação desde sua fundação. Tornou-se uma atração à parte com seu gingado e carisma, mesmo sem nunca ter sambado propriamente. Costumava usar fantasias de baianas estilizadas no estilo popularizado por Carmen Miranda. Sua atuação na folia ainda a levou a fazer parte dos conjuntos folclóricos de Mercedes Baptista e Solano Trindade, além da Brasiliana, de Haroldo Costa, com os quais viajou o Brasil e o mundo.

Um das baluartes salgueirenses mais emblemáticas; Paula do Salgueiro no desfile de 1963.

Nos anos 1960 quem também eram verdadeiras atrações do desfile da Academia era as Irmãs Marinho, um trio formado por Mary, Olívia e Norma que já era famoso quando se integrou à agremiação. Bailarinas  da noite carioca, apresentaram-se na boate Night and Day, do rei do teatro de revista Carlos Machado. As irmãs ainda rodaram o mundo no grupo de folclore Brasiliana, dirigido por Haroldo Costa, outro grande salgueirense, que foi casado com Mary.
Dos palcos da dança veio outra grande personalidade que fez história no Salgueiro, a pioneira Mercedes Baptista, já citada. Primeira bailarina negra do Theatro Municipal e criadora do Balé Folclórico, ela reuniu as heranças do popular e do erudito, de origem africana e européia, em uma dança verdadeiramente moderna. Em 1960, coreografou pela primeira vez seu grupo para desfilar na avenida a convite de Fernando Pamplona. No enredo sobre o Quilombo do Palmares, liderou um time de ogãs que tocavam atabaques.

Mercedes, a direita, puxa a inesquecível ala do Minueto, em 1963, no Salgueiro (Revista Cruzeiro)

Em 61, o grupo lembrou garimpeiros no enredo sobre Aleijadinho. Já em 62, o encontro entre índias e colonizadores do Descobrimento do Brasil já deu o que falar, repercutindo fortemente nos jornais e revistas. Mas foi mesmo em 1963 que o estouro definitivo aconteceu no seminal Xica da Silva. A ala do minueto entrou para história e marcou a contribuição definitiva da dançarina para a folia carioca. Em 1964, seu trabalho de coreografia foi tão intenso e complexo que agitou discussões sobre a descaracterização do samba. Tradicionalismo a parte, Mercedes sem dúvidas é figura fundamental da história salgueirense.

No findar da década mais importante da história do Salgueiro, outra bela cabrocha se destacou com sua ginga encantadora. Nascida praticamente dentro da quadra do Salgueiro, Narcisa Pereira Macedo frequentava os ensaios da escola desde nova porque sua mãe tinha uma barraquinha que vendia quitutes no “terreiro” – como se chamava a quadra naquela época. Em 1954, primeiro desfile da Academia, a menina não ficava quieta nos braços da mãe, que, cansada, a colocou no chão. Com apenas 5 anos, Narcisa mostrou que o samba estava no seu sangue e deu um verdadeiro show. Na década seguinte, estreou aos dez anos no extinto posto de Mascote de bateria, uma prévia do que seria as rainhas de agora. Protagonizou um episódio histórico em 1969, quando perdeu as sandálias e sambou descalça no asfalto sob o sol quente. Foi no antológico “Bahia de Todos os Deus” que seus pés ficaram em carne via ao término do desfile. Narcisa se apresentou como passista no Salgueiro até a década de 80 e atualmente administra um quiosque na quadra da Academia. 
Quando o Salgueiro perdeu o protagonismo da folia no final da década de 1970 para dar espaço ao surgimento de outras grandes escolas, uma porta-bandeira roubou para si os holofotes da vermelha e branco da Tijuca. Revolucionária, Rita Freitas chegou na Academia em 1982 após um concurso já sacudindo as estruturas do bailado tradicional do casal mais nobre da folia e quebrando paradigmas. Branca e de classe média, formada em Educação Física, sua presença causou estranhamento. Além dos clássicos rodopios, Rita incorporou ao bailado mais movimentos corporais, muito movimentos de braços e coreografias garantido uma sequência de notas 10. Rompeu com a Academia pela primeira vez em 1986, após um desentendimentos com a diretoria da escola. Voltou, de forma triunfal, em 1991, quando faturou um Estandarte no lendário desfile sobre a Rua do Ouvidor, estreando com novo parceiro: Ronaldinho, que também faria história. 
Reinaldo Alves Teixeira, Ronaldinho, era dono de uma elegância e um sorriso inconfundíveis. Ligado à folia desde cedo, estreou como mestre-sala em 1985 na vizinha Império da Tijuca. Após três carnavais, em 1988, estreou pela Academia com a porta-bandeira Norminha, já faturando seu primeiro Estandarte de Ouro. Após de afastar da agremiação em 1991, retornou apenas dez anos mais tarde em um episódio marcado por uma forte superação. O bailarino se acidentou em um histórico incêndio no programa de televisão Xuxa Park. Ronaldinho teve 20% da área corporal atingida e mesmo assim não deixou de desfilar, ao lado da então estreante Marcella Alves, com apenas 17 anos. Superando o episódio, os dois não só ganharam notas máximas do júri, como Ronaldinho faturou seu segundo Estandarte de Ouro. A parceria entre os dois durou até o desfile de 2006, quando ele retomou a dançar com a porta-bandeira Rita Freitas. No ano seguinte, começou uma marcante cumplicidade com Gleice Simpatia, que vinha da Acadêmicos da Rocinha. Seguiram juntos por cinco carnavais, sendo campeões em 2009. Aos 42 anos, esse grande bailarino morreu precocemente, depois do carnaval de 2013.

O último obá salgueirense em terra! Djalma Sabiá é um dos fundadores do Salgueiro e das mais importantes figura da agremiação, atuando ainda como compositor de obras clássicas. São assinados por eles clássicos como “Navio Negreiro” (1957); “Debret” (1959) e “Chico Rei” (1964). Foi casado com a passista Estandília, porta-bandeira do Salgueiro nas décadas de 1960 e 70. Além da importância histórica e das habilidades musicais, puxou os sambas de 1956, 1957 e 1959. Assim como o ritual de bater cabeça no terreiro ao chegar à entidade máxima, Djalma é aguardado ansiosamente e louvado com todo respeito e devoção como maior símbolo de ancestralidade da escola a cada desfile não só pelos salgueirenses, mas por todos que valorizam o fundamento de uma escola de samba.

Geraldo Babão: um dos grandes compositores da Academia (Foto Jornal Extra)

Outro nome de respeito da ala de compositores da Academia do Samba é Geraldo Babão. Sambista de mão cheia, conhecido pela sua facilidade em tirar melodias lindíssimas sem nenhum instrumento de corda, comumente utilizados para essa finalidade. Babão usava sua fiel parceira: a flauta. Uma história triste marca, entretanto, sua história. Geraldo trabalhava na fábrica da Brahma, quando uma garrafa de vidro de cerveja explodiu em sua mão, inutilizando um de seus dedos, impossibilitando que ele continuasse a tocar. Além disso, o compositor foi uma das figuras principais na introdução da ideia da fusão que deu origem ao Acadêmicos do Salgueiro, não aceito por ora pelo Calça Larga, mas com a semente plantada. Após o carnaval de 1953, o poeta desceu o morro do Salgueiro, acompanhado das três instituições que virariam uma cantando um samba de sua autoria, brincando com as rivais, “Vamos balançar a roseira/Dar um susto na Portela/No Império e na Mangueira/Se houver opinião/O Salgueiro apresenta/Uma só união”. Os versos nitidamente flertavam com a necessidade de se juntar a fim de quebrar a hegemonia das três grandes citadas no sambas. O compositor saiu do morro após a negativa pela fusão e foi para a vizinha Vila Isabel, mas logo voltou a tempo de dar à luz belas obras. Algumas das composições dele, “Eneida, Amor e Fantasia (1973)”, “Chico Rei (1964)” e “História do Carnaval Carioca (1965)”. 
Noel Rosa de Oliveira – sempre bom ressaltar, pessoa diferente do homônimo sambista de Vila Isabel – foi outro grande compositor do Torrão Amado. Ele foi o puxador da escola nos anos 1960 e 1970, quando essa função ainda era chamada de crooner, um epíteto americano de antigamente para designar os cantores de jazz. O Noel salgueirense foi compositor de nada menos do que dois clássicos do carnaval e dois campeonatos da escola, “Quilombo dos Palmares (1960)” e “Xica da Silva (1963). Além dos sambas de enredo, o poeta dava expediente nos sambas de meio de ano com primazia com parceiros da ala de compositores.
Grande parceiro de Noel, Anescarzinho do Salgueiro compôs também os dois vencedores acima. Não fixo ao samba-enredo, teve grande legado na MPB, regravando e compondo sambas que furaram a bolha nichada da folia, participando de importantes movimentos musicais da época. Nescarzinho, como também era conhecido, participou do musical “Rosa de Ouro” e integrou o grupo “Voz do Morro” com Paulinho da Viola, Jair do Cavaquinho
O carnaval salgueirense de 1971 reservou ao Salgueiro o samba mais cantado mundialmente da história. Com uma disputa acirrada, durando até duas semanas antes do carnaval, os dois finalistas são artistas cristalizados da prateleira de compositores da Academia do Samba: Zuzuca e Bala. Com o refrão extremamente melódico, “Olê-lê, Olá-lá/Pega no ganzê/Pega no ganzá”, o compositor Zuzuca acertou em cheio e contagiou a avenida durante o desfile campeão, trazendo novos paradigmas para o gênero carnavalesco.

Zuzuca do Salgueiro: compositor da obra revolucionária de 1971 (Foto Jornal Extra)

Logo no ano seguinte, o poeta queria repetir a dose no enredo sobre a Mangueira e emplacou mais uma trinca de lugares do Morro de Mangueira com comunicação objetiva e melódica: Tengo-Tengo, Santo Antônio, Chalé… Além desses clássicos mais presentes no imaginário popular, Zuzuca assinou “Chico Rei” em 1964, e “Os amores célebres do Brasil” em 1966. Bala foi o adversário de Zuzuca em relação à disputa de 1971, na qual saiu perdedor. Depois dali, todavia, nunca mais parou de ganhar, assinando a maior catarse que a Sapucaí já viu: “explode, coração!”, enredo de 1993, “Peguei um Ita no Norte”. Além desse clássico, o compositor enfileirou vitórias e outros belíssimos sambas, como “O reino encantado da mãe natureza contra o reino do mal” (1979), “Traços e Troças” (1983), “Anos Trinta, Vento Sul – Vargas” (1985), “E Por Que Não” (1987) e “O Negro que Virou Ouro Nas Terras do Salgueiro” (1992). No total, foram 11 sambas assinados pela Academia, o maior vencedor de todos os tempos. Muitos dos sambas de Bala, tiveram como parceiros outros grandes poetas da agremiação, como Celso Trindade e César Veneno.

Se reza a lenda que Demá Chagas guardava o refrão inesquecível de 1993 porque seus parceiros achavam fraco e ele quase não saiu da gaveta mesmo com “Ita” e o próprio confirma a história, ele é mais um que jamais poderia ficar de fora desse texto. Compositor extremamente ativo da safra salgueirense, o poeta participa ainda hoje das disputas tendo ganhado seu último samba em 2019 no emblemático enredo sobre o padroeiro da escola, Xangô. Tendo vencido seu primeiro samba só em 1989 com o enredo “Templo negro em tempo de consciência negra”, emplacou mais três até os anos 2000, 1990, 1992 e 1993. Zé Di, compositor paulista trazido por Joãosinho para “decifrar” seus enredos e transformá-los em samba exatamente de acordo com o que pensava, causou muita controvérsia no morro do Salgueiro antes de cair nas graças dos sambistas salgueirense por ganhar o samba que deu o campeonato de 1974, “Ô, ô, ô Xangô/As preta véia não mente, não sinhô”. Além desse, venceu com seus parceiros a disputa de 1980, com o enredo “O bailar dos ventos. Relampejou, mas não choveu”, além de ter sido intérprete da agremiação no ano de 1982.
Marcelo Motta é o maior vencedor recente da ala de compositores salgueirenses, emplacando um expressivo número de oito sambas vencedores desde 2007, quando venceu sua primeira disputa com “Candaces”. O poeta é autor de duas obras emblemáticas do Salgueiro, a de 2019, já citada acima no trecho do Bala, em louvação a Xangô, e o samba de 2016, no enredo “A Ópera dos Malandros”, obra que teve uma rápida adesão popular e virou um verdadeiro hit do pré-carnaval, furando a bolha carnavalesca durante aquele período. Outro nome vitorioso desse passado recente e compositor salgueirense de longa data é o consagrado sambista Xande de Pilares. O compositor e líder do grupo Revelação ganhou seu primeiro samba em 2014, no enredo “Gaia – A vida em nossas mãos”, a composição venceu o Estandarte de Ouro. Xande também emplacou suas composições nos de 2015, com o enredo “Do fundo do quintal, saberes e sabores na Sapucaí” e no ano de 2019 com o enredo “Senhoras do ventre do mundo”.

Salve o mestre do Salgueiro! Mesmo sendo o diretor que mais ficou à frente de uma bateria, Mestre Louro não tinha lá boas lembranças do carnaval quando era criança. Sua mãe Nair, mais conhecida como Dona Fia, boa sambista que era, não perderia o desfile de sua escola e tacava a primeira fantasia que via pela frente no menino. Enquanto criança, não gostava de se fantasiar e por isso danava a chorar. Com o tempo, foi se acostumando e aprendendo a gostar daquele ambiente, até que naturalmente os caminhos foram o aproximando da bateria. Irmão de Almir Guineto e filho de seu Ioiô, Iracy Serra, um dos fundadores do Acadêmicos do Salgueiro e compositor, não tinha pra onde correr. Iniciou na bateria em 1964 como ritmista, foi convidado pelo Mestre Mané Perigoso em 1972 para assumir o cargo de diretor de bateria, cargo em que continuou até 2003 – 31 anos! Nessa trajetória faturou 5 Estandartes de Ouro de melhor bateria e outros dois, de personalidade masculina. De fato, Louro foi responsável por dar nome e fama a uma das melhores baterias do carnaval carioca até hoje e pavimentar os caminhos que guiaram o Salgueiro a ter uma batida furiosa. Além dele, a batuta da Academia teve na figura de Tião de Alda outro grande maestro.

O grande puxador Rico Medeiros em 2016, quando interpretou uma parceira na disputa de samba naquele ano.

Aliado ao batuque do grande mestre, o Salgueiro também revelou grandes intérpretes do carnaval. O primeiro deles foi Rico Medeiros, famoso por sua voz rouca. Sua trajetória começou em  1978, ao conduzir “Do Yorubá à luz, à Aurora dos Deuses”. A partir daí foram quase anos de dedicação à família salgueirense, com uma breve passagem no apoio do carro de som na Imperatriz Leopoldinense, em 1987. Neste período, o sambista revezava-se entre ser o cantor principal da escola e também como coadjuvante de luxo de outros puxadores igualmente ilustres. Fora da folia, grandes discos solos e foi autor de sambas como “Blusa amarela”, parceria sua com Moacir, que fez relativo sucesso nas emissoras de rádio no final da década de 70, quando foi gravada pelo grupo Os Originais do Samba. Após sua grande contribuição a nossa cultura, o intérprete faleceu recentemente, em 24 de abril de 2020.
O grande substituto de Rico foi Melquisedeque Marins Marques, mais conhecido como Quinho do Salgueiro, carrega no próprio nome (artístico) a identificação com a Academia do Samba e a responsabilidade de representar tantos nomes, histórias e vozes que já passaram por ali. Entre idas e vindas, são exatamente 22 carnavais defendendo os componentes salgueirenses desde seu primeiro ano em 1991 até 2020. Demonstrando uma intimidade única com o DNA salgueirense, Quinho e o Salgueiro se confundem em sua essência. Conhecido por seus cacos, brincadeiras e suas apresentações enérgicas, o cantor foi quem representou a escola em seus dois últimos campeonatos. Além da função vocal, Quinho também já participou de disputas de samba na Academia, consagrando-se campeão em 7 vezes.
Para manter o ritmo, é preciso bons diretores de harmonia. E nesse quesito existe uma verdadeira dinastia se tratando de diretores e baluartes: os “Calça Larga”. O primeiro deles foi Joaquim Casemiro, diretor de harmonia e da quadra nos primeiros anos da agremiação. A curiosa alcunha veio pelo seu mais de 1,90 de altura e os mais de 100 kg, um líder imponente e gigante em muitos sentidos. Vivendo no morro desde 1932, foi uma figura de liderança influente que tinha na sua lista de amizades o governador Carlos Lacerda. Sua atuação foi tão fundamental para a quadra e os ensaios da vermelho e branco que hoje ele batiza a quadra original da escola, no Morro do Salgueiro, onde ela ensaia em algumas ocasiões.Falecido precocemente em um pleno ensaio da escola para a folia de 1965, Casemiro deixou como herdeiro seu filho Jorge que ganhou a mesma alcunha de “Calça Larga”. 
Já em “História do carnaval carioca” (1965), Jorge Calça-Larga começou a atuar no lugar deixado pelo pai, fazendo de tudo um pouco; puxando carro alegórico, presidente de ala, diretor social, presidente do conselho fiscal e vice presidente geral. Já nos anos 2000, a terceira geração da família passou a atuar como diretor de harmonia e evolução: Jô Calça-Larga. Ciente de seu legado, fundou o Espaço Cultural Calça Larga, na casa onde seu pai e avô moraram e que realiza pagodes e outros eventos.
Laíla surgiu no Salgueiro, como compositor e foi finalista na disputa de 1963. Conta Leonardo Bruno, jornalista e jurado do Estandarte de Ouro, que ele teria inclusive intimidado Pamplona, em posse do voto de minerva, a votar favoravelmente a sua parceria na disputa. Aos poucos, foi galgando hierarquicamente pela Harmonia da escola, chegando ainda muito novo no cargo de diretor, o que causou natural estranheza de alas mais tradicionais da escola. Com sempre muita competência e um aptidão pelo canto e pela fluência de um desfile aguerrido, com então diretor foi começando fermentar o “selo Laíla” de harmonia que estamos conhecidos de conhecer até hoje. Uma evidência do respeito e eterno carinho que Laíla tem pelo Acadêmicos do Salgueiro é utilizar até hoje os fios de conta das cores (vermelho) do padroeiro salgueirense, Xangô.

Além de toda a contribuição artística para a festa como um todo, o desfile de 1963 da alvirrubra despertou ainda um dos mais importantes salgueirenses da história: Haroldo Costa. Ele estudava no colégio Pedro II quando teve contato com o teatro em 1948, atuando no Teatro Experimental do Negro. Começando primeiro como contrarregra em meio às montagens na União Nacional dos Estudantes (UNE) até chegar ao posto de ator, no grupo liderado por Abdias Nascimento. É importante ator, escritor, produtor e figura da cena cultural carioca desde então. Em 1956, foi protagonista da primeira montagem de “Orfeu da Conceição”, escrita por Vinícius de Moraes e encenada no Theatro Municipal. Fundou, ao lado do poeta Solano Trindade, o grupo Teatro Folclórico, depois rebatizado como Brasiliana. O coletivo foi responsável por apresentar espetáculos sobre a cultura popular e viajou o mundo com suas apresentações. Na folia, já foi jurado dos desfiles no início dos anos 1960 e  depois se consagrou como comentarista na TV e jurado do Estandarte de Ouro. Em 1984, lançou o seminal “Salgueiro: Academia do Samba”, biografia pioneira de um escola de samba, sendo a sua uma das perspectivas responsáveis por construir o cânone da Revolução Salgueirense. Quase vinte anos depois, relançou a obra em comemoração do cinquentenário da escola, batizado de “Salgueiro – 50 anos de glória”. Haroldo já desfilou na comissão de frente da agremiação em seu formato tradicional, com os bambas de fraque e cartola. 
Os cantores Wilson Simonal e Jorge Ben Jor no desfile da Academia de 1971. (Revista Manchete)
Outros grandes salgueirenses que já desfilaram pela vermelho e branco foram os cantores Wilson Simonal e Jorge Ben Jor. Inspirado no desfile da escola, Jorge compôs uma de suas canções mais famosas, Xica da Silva, trilha sonora do filme homônimo dirigido por Cacá Diegues. Outra personalidade negra da nossa música e que valorizou a Academia a ponto de batizar o enredo “Festa para um rei negro” com um dos seus álbuns, foi Jair Rodrigues. O parceiro eterno de Elis Regina gravou ainda sambas de enredo da alvirrubra que não foram para a Avenida, com a parceria de Bala em 1971.

Ainda na música, Almir Guineto, herdeiro de grandes nomes da escola, também nunca escondeu seu amor pelo torrão amado. Nessa lista está ainda o Branca Di Neve, integrante do Originais do Samba ao lado de Mussum, e compositor do clássico exaltação da escola “Salgueiro é uma raiz”, ao lado de Luiz Carlos Xuxu, sambista também responsável por “Lá vem Salgueiro”. Sando da música para as artes dramáticos, dois ávidos torcedores da Academia e que sempre marcam ponto desfilando são Eri Johnson e Ailton Graça.

Na difícil missão de resgatar a história de uma agremiação por meio de seus baluartes, sempre alguns nomes acabam fugindo. Isso é potencializado por aspectos como a característica oral do ambiente das escolas de samba e pela falta de registro da trajetória de alguns nomes. Encerrando a lista, deixamos a homenagem a algumas figuras do Salgueiro que encontram registros em obras e artigos sobre a história da escola, mas sem maiores informações, tais quais as pastoras Tia Neném do Buzunga e Dona Fia. Outra figura feminina de destaque foi Dona Maria Romana (presidente da ala da das patativas e depois transformada em baianas). Também assinalamos Peru Ceciliano (diretor de harmonia e idealizador do pavilhão).
Por fim, ironicamente, contamos o time de fundadores da agremiação composto pela equipe formada por Paulino de Oliveira (Presidente); Olímpio Correia da Silva, o “Mané Macaco” (Vice-Presidente); Eduardo dos Santos Teixeira (Presidente de honra); Antônio Almeida Valente de Pinho (Patrono); Alcides Nascêncio de Carvalho (Secretário); Djalma Felisberto, o “Chocolate” (Segundo-secretário); Pedro Ceciliano, o “Peru” (Tesoureiro); Manoel Vicente de Oliveira, o “Manoel Carpinteiro” (Segundo-tesoureiro); Durval Antônio Jesus (Procurador); Antônio José da Silva, o “Malandro” (Segundo-procurador); Manoel Bernardo, o “Cabinho” e Manoel de Souza Gomes o “Manelito” (Sindicância); Custódio Augusto (Presidente do Conselho Fiscal); João Batista dos Santos, o “Bitaca”, Mário José da Silva o “Totico”, Joviano de Oliveira e Manoel Laurindo da Conceição, o “Neca da Baiana” (Membros do Conselho Fiscal).
Referências bibliográficas: os livros “Salgueiro: Academia do Samba”, de Haroldo Costa, e “Explode coração: histórias do Salgueiro”, de Leonardo Bruno, tal como as pesquisas acadêmicas de Guilherme Guaral, incluindo a tese de doutorado intitulada “O G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiros e as representações do negro nos desfiles das escolas de samba da década de 1960”, além da dissertação de mestrado de Leonardo Antan, “Laroyê Xica da Silva: narrativas encruzilhadas de uma incorporação no carnaval carioca”.

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