#SérieCarnavalescos: Os carnavais do multicampeão Alexandre Louzada

Por Beatriz Freire e Leonardo Antan

A #SérieCarnavalescos vai dominar o site no mês de junho, com textos novos às segundas e quintas. Não perca!

Abrindo os trabalhos da nova temporada de textos, agora homenageando os grandes artistas da festa, começamos com um dos mais importantes carnavalescos dos últimos anos, mas pouco valorizado de maneira geral pela história da folia: Alexandre Louzada. O artista já soma a incrível marca de 34 carnavais assinados no grupo especial carioca, sem contar ainda os trabalhos desenvolvidos nos grupos de acesso e no carnaval de São Paulo, no qual se estabeleceu na última década.

Louzada construiu sua carreira de maneira discreta e competente, apostando num estilo clássico, com passagens que partiram de agremiações mais tradicionais até as mais novatas. A assinatura com uma pegada luxuosa tem clara herança de grandes nomes que deram o tom “barroco” da folia, como Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta, apostando sempre em fantasias volumosas, realçadas por seu gosto por muitas plumas; já nas alegorias, o investimento sempre foi na grandiosidade e no luxo. Em seus carros, impossível esquecer o gosto pro esculturas monumentais, marcante em diferentes carnavais. Sua leitura clássica da linguagem carnavalesca lhe garantiu a marca impressionante de seis títulos na “era Sambódromo”, ficando apenas um carnaval atrás da maior vencedora desse período: Rosa Magalhães (amém!). Outro dado que confirma essa versatilidade é que esses seis títulos foram conquistados em quatro escolas diferentes, marcando seu bom entendimento de como agradar o júri, sendo o único na história a conseguir tal façanha.

Numa grande viagem pela longa trajetória do artista das plumas chorosas e das enormes esculturas, separamos alguns casamentos marcantes de Alexandre com escolas de samba distintas, procurando assim traçar um grande panorama desse nome fundamental para a folia nas últimas décadas.

Portela 1985/1986

Após o supercampeonato que consagrou a Portela vitoriosa em 1984, com o lendário “Contos de Areia”, ano também de inauguração da Sapucaí, não havia lugar com melhor clima – contraposto a tamanha responsabilidade – que aquele das terras de Oswaldo Cruz e Madureira para que o jovem Alexandre fizesse sua estreia. Em seu primeiro desfile, assumiu sozinho o posto de carnavalesco da águia altaneira, desenvolvendo naquele momento final de regime militar o enredo “Recordar é Viver”, sobre a noite carioca de outrora.

O desfile foi dividido em três partes: o sonho e a imaginação, os prazeres noturnos e os encantos no circo. Toda a apresentação mostrou o traço de requinte já presente na assinatura de Louzada, respeitando as cores da escola, aliado ao prata. Das alegorias que representaram os cassinos, o teatro de revista, os grandes artistas da Rádio Nacional, destacou-se a enorme lona nas cores da escola que representava o circo, encerrando o cortejo. Mesmo desfilando sob o sol apino, já que a Portela entrou com mais de 7 horas de atraso, nada foi suficiente para conter o mar azul e branco de componentes, que até com pedras de gelo se refrescou, conduzindo a escola ao quarto lugar, um enorme resultado para o então novato Louzada.

O jovem Alexandre barracão da Portela em 1985. 

Engana-se, entretanto, quem pensa que o bom resultado foi pura sorte de principiante. Renovado para o ano seguinte, “Morfeu no carnaval, a utopia brasileira” entrou na onda politizada dos desfiles, que deu o tom da década de 80 e sobretudo aquele 1986, o primeiro carnaval completamente realizado após a redemocratização. O enredo partia de Morfeu, deus do sono, para conduzir o povo num delírio que começava na bonança chegando ao pesadelo, passando pelo FMI, pela crise econômica do país, pelo Plano Cruzado e até pela Copa do Mundo, esses foram algum dos “checkpoints” que ajudaram o carnavalesco a montar o trajeto onírico proposto na narrativa. Muito cético, mas também irreverente, Louzada não abriu mão do luxo nas alegorias e fantasias, que além das tradicionais cores da escola contaram com uma paleta mais colorida desta vez. O grande samba contou bem o sentimento popular, se fixando no imaginário dos foliões com o famoso e pertinente refrão “No país da bola / só deita e rola / no país da bola / quem vem com dólar…”.

A águia de 1986 [Portelamor]

Sem imaginar que aquele era o fim de um feliz casamento que resultou em dois ótimos carnavais, Louzada se despediu da Portela com mais um quarto lugar no Grupo Especial, antes de ser contratado pela União da Ilha. Essa comandada artisticamente à época por Arlindo Rodrigues, artista que influenciou o jovem carnavalesco.

Grande Rio 1993

Após a estreia na águia de Madureira, Louzada fez uma passeio de menor expressão por União da Ilha, Cabuçu e Cubango (no Acesso) até encontrar a Caprichosos de Pilares buscando resultados melhores, após perder a força criativa de seu grande mestre, Luiz Fernando Reis. Na azul e branco de Pilares, o artista assinou três desfiles até desembarcar em Caxias.

Foto: Widger Frota

Sua trajetória voltaria a ter destaque ao assumir a recém-fundada Grande Rio, em 1993, quando a tricolor voltava ao Grupo Especial após uma rápida passagem dois anos antes. Louzada desenvolveu um belo desfile na escola sobre a relação do homem com a lua. O samba composto e interpretado por Nêgo se tornou um clássico no repertório da agremiação da Baixada.

O enredo passeou por diferentes aspectos do satélite natural da Terra, desde as antigas civilizações até as lendas e mistérios do astro, passando ainda pela conquista espacial, as serenatas ao luar, a mudança das marés e até a “lua de mel”. A plástica contou com assinatura característica do artista, apostando em alegorias volumosas e grandiosas, enquanto as fantasias abusavam do requinte das plumas. A junção do excelente samba com o visual requintado garantiu com folga a permanência da novata entre as grandes, faturando um expressivo nono lugar para a agremiação ascendente do acesso, desbancando as tradicionalíssimas Portela e União da Ilha.

Mangueira 1998/99/2000

Foi na Estação Primeira em que Alexandre Louzada desembarcou após uma segunda e ligeira passagem pela Grande Rio, em 1997. Ele vinha de um décimo lugar no Grupo Especial, enquanto a verde e rosa trazia na bagagem mais recente dois carnavais assinados pelo inesquecível Oswaldo Jardim. Marcando a estreia desse encontro, em 1998, o carnavalesco comandou uma homenagem pra lá de especial a uma figura já conhecida do povo brasileiro: Chico Buarque de Hollanda, um dos maiores nomes da nossa música, além de ilustre mangueirense.

Foto: O Globo

“Chico Buarque da Mangueira” batizou o enredo que passeou pela vasta obra do homenageado. Logo no início, a comissão de frente de Carlinhos de Jesus foi louvada com os malandros cariocas lembrando a “Ópera do Malandro”, peça teatral de Chico. O cuidado de Louzada ao selecionar o repertório de imagens e musicais que comporiam o cortejo foi fundamental para o sucesso da apresentação, dando um tom alegre à homenagem. Embalada por um grande samba, a verde e rosa deu aula de chão em evolução e harmonia, passando muito bem vestida com fantasias nas tradicionais cores da agremiação.

Louzada no barracão da Mangueira em 1998.

Após arrastar a Sapucaí, na quarta de cinzas, o sonho se tornou realidade e a Mangueira se consagrou campeã após um jejum de 11 carnavais, dividindo a taça com a Beija-Flor, marcando a primeira vitória da trajetória do carnavalesco. No ano seguinte, era praticamente impossível esconder a alta expectativa por um bicampeonato. Louzada debutava na Avenida em seu décimo quinto ano como carnavalesco aliado a responsabilidade de fazer mais um bom desfile. Para isso, o enredo “O Século do Samba” precisaria dar às arquibancadas todo o fervor do último carnaval ao homenagear o ritmo mais brasileiro.

Uma Comissão de Frente histórica abriu com emoção os trabalhos, os integrantes comandados por Carlinhos de Jesus representavam fidedignamente, em aparência e movimentos, personagens marcantes do samba que já haviam partido. O abre-alas também trouxe figuras indispensáveis do ritmo, como Martinho da Vila, a majestosa Dona Ivone Lara e Zé Keti. Nos quesitos plásticos, destacaram-se fantasias mais leves e regulares alegorias, que prejudicaram a perfomance total por algumas falhas de acabamento. Outro erro que fez a agremiação perder preciosos pontos foi em evolução, lenta e repleta de buracos, que contribuíram para um sétimo lugar, frustrante para quem tinha faturado o caneco um ano antes.

No terceiro e último ano de sua passagem pela Estação Primeira, o carnavalesco surpreendeu ao contar a história de Cândido da Fonseca Galvão, herdeiro do trono do Império de Oió e figura importante do reinado de D. Pedro II. O enredo “Dom Obá II – Rei dos esfarrapados, príncipe do povo” gerou um belíssimo samba, dando corpo a um ótimo desfile, que teve como destaque mais uma vez a comissão de frente de Carlinhos de Jesus. Na plástica, destacou-se o conjunto de fantasias nas cores tradicionais da agremiação, dessa vez apostando em tons pastéis. Já na pista, problemas de evolução atrapalharam mais uma vez a busca por resultado melhores, dessa vez provocados pela quebra de uma alegoria. O resultado acabou sendo mais um sétimo lugar, dando fim a passagem de Louzada na Mangueira.

Vila Isabel 2006

Após uma passagem pela Porto da Pedra de dois anos, onde carnavalizou a comunicação e reeditou o icônico “Festa Profana” da União Ilha, num excelente trabalho, Louzada assumiu a Vila Isabel em posição ingrata. A azul e branco de Noel acabara de ascender ao Especial um ano antes e ainda buscava se estabilizar no grupo principal.

O enredo internacional fez um belo passeio pela América Latina, patrocinado generosamente pela estatal venezuelana PDVSA (R$ 900 mil à época, segundo consta). A gorda ajuda garantiu (presume-se) um conforto e liberdade para a criação do artista, indo desde as civilizações pré-colombianas até o sonho da integração latinoamericana, simbolizada por Simón Bolivar, representado na alegoria final em uma das marcantes esculturas gigantescas da trajetória de Alexandre.

O desfile contou com uma abertura luxuosa ao retratar o esplendor do Império Asteca; o artista abusou do dourado aliado ao azul celeste característico da escola de Noel. As ricas baianas vieram no mesmo tom, ostentando plumas de faisões em suas fantasias. Os figurinos também não abriram mão do luxo e da marca de opulência. Comentarista da transmissão daquele ano, a carnavalesca Maria Augusta faz uma observação precisa sobre o momento que o profissional vivia: “Alexandre Louzada tá de parabéns, eu chamo de maturidade quando um carnavalesco, um artista plástico do carnaval, apresenta um espetáculo dessa categoria”, declarou após elogiar o trabalho de cor e o uso de materiais.

E foi exatamente a maturidade e o entendimento preciso de todos os itens clássicos para uma linguagem de desfile tradicional que se destacaram nessa apresentação. O samba-enredo mediano da escola cresceu muito na Avenida, sendo muito bem interpretado por Tinga aliado a boa harmonia do bairro da zona norte, o que só podia resultar uma grande apresentação da agremiação. Numa apuração conturbada, a Vila Isabel desbancou outras favoritas e faturou o segundo título de sua história e da trajetória de Louzada, que a partir dali veria sua carreira ganhar novo patamar.

Beija-Flor 2007/08/09/10/11

De uma azul e branca pra outra: depois de um campeonato na Vila Isabel, Alexandre Louzada passou a integrar a comissão de carnaval nilopolitana, formada então por Laíla, Fran Sérgio, Shangai e Ubiratan Silva, assumindo o lugar deixado por Cid Carvalho, que optou pela carreia solo.

Foto: G1

Sua estreia marcou mais uma aposta da Deusa da Passarela na temática afro, com o inesquecível “Áfricas – do berço real à corte brasiliana”, sobre a diáspora africana e a reinvenção negra em terras brasileiras. A abertura da escola, toda em um tom dourado, trazia a gênese africana e tripés de girafas. A imponência da entrada era bem alinhada a personagem da agremiação, se tornando absolutamente marcante. Ao longo do tapete cromático, pode-se observar o azul e também o prateado nas alegorias, além da palha, muito bem utilizada. O abre-alas contou ainda com uma rara e luxuosa aparição do símbolo que dá nome à escola. O requinte ditou o tom de todo o desfile, principalmente nas fantasias. O samba composto por Cláudio Russo, J. Veloso, Carlinhos do Detran e Gilson Dr. foi considerado o melhor do ano – e talvez um dos melhores da escola – e a Deusa da Passarela encerrou o carnaval daquele ano em estado de graça, nos braços – e na boca – do povo aos gritos de “é campeã”. Fez-se a profecia: na quarta de cinzas, veio o gratificante resultado que consagrara a escola campeã e Louzada, pelo segundo ano consecutivo e pelo terceiro em toda a sua trajetória, carimbou mais uma vitória para chamar de sua.

Alexandre no barracão da Beija-Flor em 2008.

Em 2008, movida pelo combustível do recém-campeonato, a Beija-Flor optou por um enredo CEP patrocinado, mas com um toque todo especial ao desenvolver “Macapaba – Equinócio solar. Viagens fantásticas ao meio do mundo”, sobre Macapá, capital do estado do Amapá. A grandiosidade, marca registrada do carnavalesco, não foi deixada de lado e o abre-alas já começou impactando a Sapucaí com seus aproximados 50 metros de extensão, além, é claro, das volumosas esculturas ao longo de todo o desfile, onde chegou-se a gastar, segundo o próprio Louzada, a quantia de 150 mil reais em acetato para uma única alegoria. O conjunto de carros e fantasias mostrou-se praticamente impecável e surpreendeu positivamente ao trabalhar as cores com bom gosto. Pela terceira vez consecutiva dentre as quatro totais, Louzada teve a felicidade de levantar novamente o caneco do primeiro lugar, garantindo um bicampeonato à escola nilopolitana. Somada a vitória da Vila dois anos antes, Alexandre tornou-se um dos raros carnavalescos a ostentar um tricampeonato.

A colorida abertura da Beija-Flor de 2011.

Em 2009 e 2010, o carnavalesco permaneceu na agremiação da Baixada e conquistou dois outros bons resultados para a azul e branca, mas foi em 2011, outra apresentação que marcaria a trajetória do já consagrado artista da folia. “A Simplicidade de um Rei” homenageou Roberto Carlos, passeando desde a infância do cantor em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, seguindo pela Jovem Guarda até “as emoções em alto mar” nos ritmistas, que faz referência ao cruzeiro que conta com shows do cantor. A escola optou por trabalhar com tons claros, como Roberto gosta. Nas alegorias, se viu menos luxo e uma visualidade que buscava a simplicidade, a qual no fim das contas acabou sendo prejudicada por falhas de acabamento. Enfrentando ainda dificuldades de evolução por conta do óleo derramado na pista no desfile da coirmã Porto da Pedra, já o samba não rendeu como esperado. Mas, como quem é rei nunca perde a majestade, os ares foram outros quando passou o carro que trazia o homenageado e uma grande escultura de Jesus Cristo, conquistando público e jurados. Mais uma vez, a Beija-Flor terminou campeã, e Louzada somava agora cinco títulos em sua carreira. Apesar do bom resultado, o casamento com a escola nilopolitana chegou ao fim naquele mesmo ano.

São Paulo: o encontro com a Vai Vai

Além do Rio, Louzada construiu ainda uma carreira expressiva na folia paulistana. Sua primeira passagem na terra da garoa foi em 1995, no Camisa Verde e Branco. Entre idas e vindas, o carnavalesco se estabeleceu de vez na folia do Anhembi em 2011, quando se consagrou campeão pelo tradicional Vai-Vai, numa inesquecível homenagem ao maestro João Carlos Martins, que aliou o trabalho sempre característico do artista a um antológico samba-enredo do Bixiga. Com a vitória, Louzada arrematou dois campeonatos simultâneos nas duas principais folias brasileiras no mesmo ano, um feito inédito e até hoje não alcançado por mais ninguém.

O abre-alas da Vai Vai em 2011.

O profissional teria também uma passagem de dois anos pelo Império de Casa Verde, entre 2012 e 2013, além de um rápido encontro com a Vila Maria, em 2016, mas seria mesmo com o Vai-Vai sua grande parceria do lado de lá da ponte aérea. Sempre dividindo a criação com outros nomes, ele participaria do também campeão desfile de 2015, num tributo emocionante a Elis Regina, e de outras duas homenagens, a Mãe Meninha do Gantois, em 2017, e ao cantor Gilberto Gil, em 2018. Para o ano que vem, o carnavalesco retorna à Unidos de Vila Maria, junto a Cristiano Bara. A escola paulistana ainda não definiu seu enredo.

Portela 2014/15

Após a estreia pela azul e branco na década de 80 e uma trilogia de desfiles no início dos anos 2000, entre 2001 e 2003, marcada por bons desfiles mas que não tiveram o reconhecimento do júri, o artista, assumidamente portelense, retornaria para um terceiro e muito especial encontro com a sua agremiação de coração.

Contextualizando, a Majestade do Samba vinha de um carnavais difíceis, provocados pela má administração de seu ex-presidente Nilo Figueiredo. Na preparação para 2014, uma nova direção assumiu a escola após conturbadas eleições que deram fim ao mandato do dirigente. A nova administração, liderada por Serginho Procópio e Marcos Falcon, foi fundamental para dar todas as possibilidades de Louzada desenvolver um carnaval que marcaria a volta por cima da Águia. Como é fácil associar, o estilo plumário e opulento do artista casou bem com a conhecida elegância portelense, retomando o orgulho da nação azul e branca com louvor. Desde o abre-alas, repleto de águias, passando pela marcante escultura que personificava a máxima “o gigante acordou” das manifestações de junho de 2013, a escola fez uma das grandes e belas apresentações do ano, conquistando um honroso quarto lugar.

O casamento duraria ainda mais um carnaval, com outro desfile expressivo na trajetórias de ambos. A homenagem aos 450 anos do Rio de Janeiro pelo olhar surrealista do pintor Salvador Dalí foi responsável não só por um dos grandes momentos do carnaval àquele ano, como por uma das águias mais marcantes da história portelense, destaque também na trajetória plástica de Louzada, a inesquecível Águia Redentora. No geral, as fantasias e alegorias deram sequência ao resgaste do luxo e requinte portelense. Alguns deslizes em elementos alegóricos contribuíram para um modesto quinto lugar no fim das contas, entretanto, a passagem da azul e branco de Madureira pôde revigorar os ânimos da comunidade.

Mocidade 2016-Atualmente

Após uma rápida passagem de dois anos na escola da Zona Oeste anos ante, onde havia desenvolvido uma homenagem ao pintor Cândido Portinari e ao Rock In Rio, Alexandre Louzada voltou à verde e branco em 2016. O experiente artista se juntou ao talentoso Edson Pereira para desenvolver “O Brasil de La Mancha – Sou Miguel, Padre Miguel. Sou Cervantes, Sou Quixote Cavaleiro, Pixote Brasileiro”, que passeou pelas mazelas do Brasil através da literatura. Apesar da dupla de bons profissionais, a agremiação teve problemas financeiros e de barracão, o que acabou gerando um desfile irregular, que rendeu um décimo lugar à escola.

Para 2017, Edson se desligou da agremiação e Alexandre assinou sozinho a viagem rumo ao Marrocos. “As mil e uma noites de uma ‘Mocidade’ pra lá de Marrakech” batizou o enredo, formulado a partir de uma sinopse confusa, mas interpretada de maneira antológica pelo samba encabeçado por Altay Veloso e PC Feital, que já no pré-carnaval se revelou como um dos grandes trunfos da escola para o que estava por vir. Em um desfile marcado pelo verde e pelo dourado, a Mocidade começou bem com uma comissão de frente arrasa-quarteirão, trazendo um Aladdin que voava em seu tapete pela Avenida através de um drone, fazendo a Sapucaí delirar.

Após a abertura impactante, a agremiação passou correta e embalada por seu grande samba, que deu o tom da apresentação. Em um ano atípico e após um jejum de mais treze anos longe do desfile das campeãs, a escola faturou um surpreendente segundo lugar na quarta de cinzas. Semanas depois, com a revelação das justificativas do júri, percebeu-se um erro de julgamento ocasionado a partir da leitura desatualizada do Livro Abre-alas, o mapa do desfile. A falha foi reconhecida pela Liga, que consagrou a escola também campeã daquele ano, dividindo título com a co-irmã Portela.

No último carnaval, Louzada, em mais um CEP, fez a ponte entre a Índia e o Brasil. O samba-enredo foi novamente composto, e ainda mais aclamado, pela dupla do ano anterior e considerado um dos melhores do ano mais uma vez. A comissão de frente trazia deuses hindus e fez uma lindíssima apresentação. Com uma parte plástica irregular, a escola teve falhas de acabamento nas alegorias e, apesar da boa concepção das fantasias, a realização não foi como o esperado. De qualquer forma, foi um bom desfile e que garantiu um confortável sexto lugar à escola. Em 2019, Alexandre segue em seu quarto carnaval pela verde e branco e contará a história do tempo no enredo “Eu sou o Tempo. Tempo é vida”.

É por essa longa e marcante trajetória que Alexandre Louzada se tornou um dos principais artistas da folia brasileira nas últimas décadas. Sua assinatura clássica aliada a elementos marcantes fundamentais de sua trajetória rendeu carnavais memoráveis e vitoriosos, destacando a história de diversas agremiações. Bravo, Louzada, que sua brilhante história seja sempre reconhecida!

Como virou tradição, confira nossa playlist com os sambas-enredos que embalaram as apresentações assinadas pelo carnavalesco no Rio e em SP:

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