#SérieSambas: 8 grandes intérpretes do carnaval brasileiro

A #SérieSambas vai trazer todo o universo do gênero que comanda a nossa festa, desde os grandes clássicos, passando por seus compositores e intérpretes. Sempre às segundas e quintas-feiras de outubro. Fiquem ligados!

Por Redação Carnavalize

Sambas antológicos não se fazem sozinhos. Para eles explodirem na Avenida são necessárias grandes vozes para entoá-los. Por trás de grandes clássicos do repertório do gênero samba-enredo, estão verdadeiros intérpretes que fizeram história com seus diferentes timbres e personalidades. Alguns acabaram ficando relegados apenas no nicho, outro se tornaram famosos e compositores de canções de outros gêneros. Mesmo sem receber o devido valor, eles são verdadeiros monstros da nossa música. Por isso, separamos oito grandes cantores que balançaram a Sapucaí e o Anhembi, pegue o microfone e prepare o grito de guerra.

Quinho

Ao falar em Melquisedeque, pode até ser que surjam olhares estranhos e que poucos realmente saibam de quem se trata. Mas ao gritar “arrepiiiiiiiia” ou ainda “pimba! Pimba!”, é impossível não saber que se trata de Quinho, uma das mais marcantes vozes do carnaval e dono de um dos mais populares gritos de guerra. A história dessa carismática figura começou no bloco carnavalesco Boi da Freguesia, mas foi o imortal Aroldo Melodia o responsável por sua grande estreia dentre as renomadas escolas do carnaval carioca, na União da Ilha do Governador. A voz grave e rouca marcou a vida de diversas gerações de foliões e ganhou fama em todo o Brasil, sendo Quinho detentor de um dos mais famosos alusivos do carnaval. 
Foi no Salgueiro, porém, somando ao todo 20 carnavais, dentre os quais 12 foram ininterruptos, que Quinho fez história e emprestou sua voz a momentos memoráveis da Academia do Samba e da própria Sapucaí, como a homenagem aos 50 anos da alvirrubra, o sétimo – e questionado – lugar de Candaces, o campeonato de 2009, com Tambor, e, por fim, Gaia, um dos desfiles mais marcantes dos últimos anos da escola. Depois de um desentendimento com a diretoria da escola, Quinho rumou para São Paulo, onde defendeu a Unidos do Peruche em 2015 e 2016. No Rio de Janeiro, desde o último carnaval retornou à Sapucaí para defender a Acadêmicos de Santa Cruz.


Eliana de Lima

Eliana de Lima é figura de respeito no mundo do samba. Famosa não só por seus grandes sucessos no pagode romântico como “Desejo de Amar”, mas por ser uma das primeiras e mais marcantes vozes femininas à frente de um carro de som de escola de samba. Sua trajetória enquanto intérprete de samba-enredo começou na Cabeções da Vila Prudente, em 1979, quando soltou o vozerão na quadra da escola e passou a integrar o time das pastoras da agremiação. 
Em 1980, pela Príncipe Negro, fez a sua estreia e de lá deslanchou por escolas como a Mocidade Alegre, Unidos do Peruche, Rosas de Ouro e Barroca Zona Sul. Pela Leandro de Itaquera, gravou seu timbre na história: interpretou Babalotim, um dos mais belos sambas do carnaval da terra da garoa e do Brasil, considerado antológico. Ao lado de outras mulheres, como a amiga Bernadete, brilhou e quebrou estereótipos, além de ter tido a honra de cantar ao lado de Jamelão, considerado o maior intérprete de todos os tempos. Hoje, Eliana, a Rainha do Pagode, segue cantando e sendo relembrada pela sua trajetória de muito sucesso apesar de não empunhar o microfone de nenhuma escola há bastante tempo.

Aroldo Melodia

Grandes intérpretes não só marcam sua passagem por alguma agremiação, como podem estar inteiramente ligados à identidade delas. É o caso Aroldo Forde, que por mais de vinte vezes emprestou sua voz para os sambas-enredos da União da Ilha. Se a tricolor ficou famoso pelo estilo leve e simpático no imaginário carnavalesco, muito desse apelo se deve às atuações sempre divertidas e carismáticas do intérprete. O cantor está intimamente ligado a história da agremiação, chegando por lá apenas cinco anos depois de sua fundação, em 1958. 
Na tricolor insulana, permaneceu interruptamente até 1983, entoando clássicos do repertório da agremiação como “O amanhã” e “É hoje!”. Em 1984, surpreendeu ao sair da sua escola de origem e seguir rumo à Padre Miguel, onde também substituiu um cantor muito ligado a sua agremiação, Ney Vianna. A parceria não rendeu para ambas as partes e Aroldo seguiu para a Santa Cruz por dois anos, antes de voltar pra a Ilha. Entre idas e vindas na agremiação, passou ainda por Unidos da Ponte e Caprichosos de Pilares. Encerrou a carreira em 1996, quando sofreu um derrame cerebral que o obrigou a andar em cadeira de rodas, mas deixou de herança seu filho Ito, que tal como o pai marcou a história insulana e segue sendo o cantor da União por mais de uma década. 

Thobias da Vai-Vai

Edimar Tobias da Silva antes de entrar no mundo do samba trabalhava como entregador de contas da Sabesp, até que começou a frequentar rodas de samba e acabou vencendo um concurso de intérprete da empresa, despertando o interesse dos Gaviões da Fiel, na época ainda bloco. Assim, ele começou assim a escrever a sua história no carnaval em 1983. A passagem pelos Gaviões acabou sendo rápida, devido seu sucesso que acabou chamando a atenção do Vai-Vai, que não perdeu tempo e já em 1986 o colocou como dono do seu microfone principal. 
Sua carreira foi marcada pela passagem longa no Vai-Vai, tanto que quando se fala de um se lembra do outro naturalmente. Foram quatorze carnavais, com oito títulos conquistados, sendo a voz principal do Bixiga. Sempre foi conhecido pela sua tranquilidade, seu profissionalismo, pelo sorriso fácil e pela sua voz potente que ecoava pelo sambódromo do Anhembi. Thobias, além de intérprete, foi eleito presidente do Vai-Vai em 2006, permanecendo no cargo por quatro anos, sendo ainda presidente de honra e foi vice-presidente da escola até o ano de 2018. Falar da história de Thobias como interprete do Vai-Vai e ouvir o seu inesquecível “alô nação alvinegra” não é apenas relembrar da era de ouro da escola da Saracura, mas também de uma das vozes mais marcantes da história do carnaval. 


Dominguinhos do Estácio 

“Olha o Dominguinhos chegando…” Cria do morro do São Carlos, Domingos da Costa Ferreira ganhou alcunha relativa ao seu bairro de origem antes da escola do lugar ser conhecida por Estácio de Sá, mas sim Unidos de São Carlos. Foi na escola do bairro que Dominguinhos se tornou primeiro compositor e depois assumiu os vocais, entoando na avenida clássicos como “Arte Negra na lendária Bahia” e “Festa do Círio de Nazaré”.

Teve uma rápida passagem pela Santa Cruz em 1977 e logo depois desembarcou em Ramos. Na Imperatriz Leopoldinense, assinou junto com Darcy do Nascimento a emblemática canção do enredo “O que é que a Bahia tem?”, que sagrou a escola campeã, ficando na escola por mais dois anos e faturando mais um título no ano seguinte. O cantor nunca teve duradouros cansamentos com uma escola em especial, pelo contrário, foi um nome de muitos amores, emprestando sua voz e talento a grandes agremiações. Não a toa, Dominguinhos é o único intérprete campeão em três escolas distintas, deixando sua marca na história de cada uma delas.

Na verde e branco de Ramos, ele voltaria em 1989 e se sagraria campeão com o clássico “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós”. Nos anos 90, voltou a sua escola de origem e embalou a histórica vitória da vermelho e branco com “Pauliceia Desvairada – 70 anos de modernismo”, e anos depois cruzou a ponte rumo a Niterói. Na Viradouro, permaneceu por mais de uma década e entoou o campeonato de 1997. Dominguinhos teve ainda carreira como cantor de samba e pagode, lançando mais de nove álbuns de sua carreira. Atualmente, segue afastado da Avenida após voltar a Estácio e Viradouro nos últimos anos.

Royce do Cavaco

Royce Todoverto começou a sua carreira no carnaval como intérprete em 1982 no Águia de Ouro, mas a sua história no carnaval paulistano começou bem mais cedo: quando jovem, ele costumava tocar o seu cavaco nas rodas de samba nos jogos de várzea com a companhia dos seus irmãos. Nos jogos, acabou conhecendo muitos sambistas e assim começou a frequentar algumas escolas de samba, dentre elas a Rosas de Ouro, onde mais tarde integrara a ala de compositores. Royce é muito respeitado por onde passa e por toda a comunidade do samba por seu estilo simples de ser e de cantar, sem fazer firulas, os famosos cacos. 
Sua passagem mais marcante foi exatamente no Rosas de Ouro, sua atual escola. Até o momento são 14 carnavais defendendo a escola da Freguesia do Ó, com 5 títulos conquistados, além de várias performances memoráveis do cantor. Ouvir o ‘Sabiá da Roseira’ puxar o seu grito de guerra é ter a certeza de que ali se iniciará mais uma belíssima performance de um dos grandes intérpretes da história do carnaval do Brasil. “Alô nação azul e rosa! Canta, canta, canta Roseira…”

Neguinho da Beija-Flor 

“Olha a Beija-Flor aí, gente!…” O mais emblemático grito de guerra da Sapucaí surgiu espontaneamente, de uma adaptação de uma música chamada “Olha o camburão”, de composição própria. O cantor teve seu primeiro contato com a música aos 10 anos de idade, ao vencer um concurso de cantores mirins cantando uma música de Jamelão. Aos 26 anos, em 1976, o Neguinho da Vala virou da Beija-Flor ao compor o clássico Sonhar com o rei dá leão. Desde então, empresta seu talento à agremiação, de forma voluntária, sem receber salário, como gostar de frisar.
Essa relação profunda entre Neguinho e a agremiação não é só sinônimo de resistência e enaltecimento de identidade nas escolas corporativas de samba. A própria voz da Beija-Flor é a voz rouca de Neguinho, e vice-versa. O cantor e a instituição se confundem tamanha entrega e profundidade do vínculo, que dura mais de quarenta anos, um dos maiores da história da Avenida. E eternizada no samba-exaltação “Deusa da Passarela“, composto por ele. Por isso, pela simpatia, pelo talento e pelo carisma particulares, o intérprete é um dos mais queridos por público e crítica, possuindo diversos admiradores e prêmios, como cinco Estandartes de Ouros. 
Em 2009, Neguinho desfilou careca na Sapucaí após o tratamento de um câncer e casou em plena Avenida, local em que ele mais brilha. Para isso, convidou o ex-presidente e preso político Lula para ser padrinho da cerimônia. Ele e Dona Marisa, no entanto, não puderam comparecer à cerimônia.  Neguinho é ainda emblemático cantor e compositor além da Avenida, sendo o autor do clássico das arquibancadas “Domingo, Eu Vou Ao Maracanã“.

Jamelão

José Bispo Clementino dos Santos foi para muitos a maior voz que já surgiu até hoje no carnaval. Seu timbre potente e o grave tom com que ecoava cada palavra intimidava e era característica fundamental para a personalidade do cantor. Jamelão, como não poderia deixar de ser diferente, foi uma figura muito peculiar. Não só sua voz, mas seu profissionalismo, sua dedicação e seu amor genuínos e profundos à Estação Primeira de Mangueira, além do famoso mau-humor e a maneira como se colocava ao rejeitar o título de puxador e toda sua composição são marcantes e repletas de memória.
O cantor emprestou sua voz para a verde e rosa por incríveis 57 carnavais, recorde absoluto entre as escolas de samba. Sua última passagem pela Sapucaí foi no carnaval de 2006, prestes a completar 93 anos de vida, quando a agremiação exaltou as águas e os elementos que cercavam o rio São Francisco. É um dos recordistas de Estandarte de Ouro, com seis estatuetas. Em 2013, ano do centenário de Jamelão, a Unidos do Jacarezinho o homenageou com o enredo “Puxador, não. Intérprete!”, e relembrou a vida e os elementos do artista, como o a superstição do uso de vários elásticos em sua mão e sua carreira fora da Avenida, quando se entregou a gravação de sambas-canções, a ditas músicas de dor de cotovelo. O grito de “minha Mangueira” deve causar comoção e saudosismo para a torcida da escola durante muito mais tempo.
A lista lembrou alguns dos intérpretes mais marcantes a passar pela Sapucaí e Anhembi, mas sempre há outros nomes que merecem e devem ser lembrados por suas incríveis atuações e personalidades próprias. Desde os nomes que já não está mais em atividade, como Carlinhos de Pilares, Ney Viana, Gera ou Jackson Martins, até os nomes mais recentes como Wantuir, Wander Pires, Nêgo e Preto Joia. Todos deixaram seus vozeirões eternizados na Avenida. 

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